domenica, maggio 30, 2010

Sede de quê?

calor nas minhas pernas
sede
queimam os poros esquecidos
sede
gritam as paixões platônicas
sede


sou água quieta
que deseja sede...

lunedì, maggio 10, 2010

Verônica de joelhos


Foi durante o almoço. Verônica encostou-se à janela de vitral ensolarada, enquanto esperava a fila do bufê farto. Acompanhava o preenchimento vagaroso de cada centímetro daqueles copos tomados pelo suco de uva. As mãos, do jovem que segurava a jarra, eram morenas carregadas de um nervosismo latente. Ela hesitou, mas como resistir sem prosseguir o olhar discorrendo sobre o braço, também moreno do jovem rapaz que servia sucos¿ Ah, e a camisa preta com dois botões entreabertos!

Certamente a camisa do dia de festa, com cara de presente de mãe. Penduradas no pescoço duas correntes eram guardadas, uma com um nítido e reluzente crucifixo. De uma beleza fascinante e perturbadora: o crucifixo, também o jovem. Verônica ainda correu os olhos pela boca carnuda e saliente do rapaz, imaginou a frescura macia daquela jovialidade. Tocou-lhe por fim os olhos negros - ele encabulado os baixou em direção aos muitos copos de sucos a serem servidos.

Carlos contou inúmeras vezes a quantidade de copos sobre a mesa. Os homens chegavam, diziam sua preferência e por fim levavam alguns daqueles recepientes. Queria ter mais tempo para acompanhar os pequenos movimentos daquela mulher de pele branca encostada na janela de vitrais ensolarados. Seus quadris eram largos, não tanto quanto os da mãe, mas saliente como da irmã mais velha. A pele branca como a neve que assistiu pela televisão. Tentou-lhe a boca carnuda e pensou nos beijos que vários homens desfrutaram ali. Mas, Carlos precisava servir sucos, baixou mais uma vez os olhos diante da mulher da janela e já pedia perdão pelas insanidades que acalentavam sua mente.

Verônica serviu seu prato e sentou-se em uma mesa em frente ao bar. A cada pouco tempo perturbava Carlos com um olhar singelo. Ele, no entanto, baixava os olhos negros e servia mais suco para os homens que se aproximavam. E ela sentia sede, levantou-se da cadeira e encostou-se devagar no balcão de sucos. Sem desviar dos olhos do jovem, Verônica lhe suplica em tom macio um suco de uva e devagar toca com as pontas dos dedos a mão que lhe estende um copo. Ela era capaz de sentir naquele toque a trêmula fervura das entranhas de Carlos a lhe desejar. Calada, virou-se, embalou os quadris levemente, atirou os cabelos loiros para traz e pôs-se a andar em direção a mesa. Um ato quase esnobe, se Carlos não tivesse sentido o desejo daquela mulher no seu olhar. Beijou o crucifixo pela segunda vez e serviu os últimos copos de suco.

Depois do almoço todos voltaram aos seus trabalhos. Carlos se refugiou angustiado para o quarto coletivo, ajoelhou-se em frente a imagem de Cristo e rezou. Verônica sozinha pelos corredores do largo prédio sabia que por detrás daquelas portas antigas o jovem de pele morena escondia seus desejos. Vagou durante toda a tarde pelos corredores vazios e gelados a procura daqueles olhos negros, quem sabe de um encontro inesperado.

Carlos durante o banho não queria pensar no toque quente das mãos de
Verônica no almoço. Mas seu corpo reagia contrário as suas condenações, o pênis ereto já gotejava a fúria incontida daquele desejo. Vestiu-se, com a melhor camisa que sua mãe lhe mandara da cidade natal. Penteou os cabelos rigidamente, bateu a porta antiga atrás de si e sumiu também ele pelos corredores longos daquele prédio. Suas mãos suavam, sua pupila permanecia dilatada, os batimentos cardíacos condenavam sua prévia seriedade, tinha que encontrá-la entre aqueles labirintos.

E foi ali no corredor do Seminário antigo que os dois se dissecaram mais uma vez. Verônica encontrou-se demoradamente nos olhos de Carlos, que novamente os baixou e apressou os passos em direção a capela por uma porta entreaberta. Escondida entre os corredores e móveis antigos, a capela permanecia intacta, escura e inexplorada como a pele de Carlos. Verônica discretamente adentrou na sala enchendo de luz o ambiente escuro, explorando cada centímetro daquele vazio.

Tocou-lhe os lábios, sussurou desejos no ouvido e deslizou suas mãos pela pele na camisa entreaberta. O crucifixo permanecia gelado no pescoço, mas podia sentir o corpo de Carlos queimando, então foi ela que beijou de leve aquela cruz. Verônica sabia do tamanho pecado que estava a cometer, e de joelhos pediu perdão enquanto sentia gotejar sobre sua pele branca mais um pouco do desejo carnal do jovem moreno, Carlos – o seu seminarista - que com o olhos, agora para o alto, se sentia o mais abençoado.

sabato, maggio 08, 2010

Construindo contos...eróticos

Irei dedicar um tempo aos contos eróticos. Gosto de ouvi-los, de tocá-los, entoá-los. O erótico que beira o insano, o profano, que constrange, que dá vontade, que sucumbi, que dá brilho no olhar. O erotismo singelo da voz, do olhar, do encontro e do desencontro. Os eróticos momentos de solidão, e os eróticos movimentos em meio a multidão. E se não se erotiza a vida, se perde o sentido, as vontades latentes, não se quebra as regras, não se desfaz os nós dos dias dificultosos.

O erotismo muito mais do que carnal, mas o erótico em nossos sentidos dados em casa escolha. É estranho este momento que me ponho a contemplar histórias de eroticidade e sinto uma imensa vontade de escrevê-las com a perspectiva do meu olhar, sem mesmo as viver.


Sinto que preciso me afugentar uns tempos. Mas, volto já.

martedì, maggio 04, 2010

O ser leve em sua poesia?


Histórias
pedaços de gente
histeria ou amor?


O peso leve
traços desalinhados
a bela tolice
dos insensatos...

Histórias
pedaços de coisas
muro ou depósito?

A leve imagem
divã ao fundo
é poesia amorosa
o fardo do mundo...


sabato, maggio 01, 2010

O alambrado em versos


Arames caídos
nos alambrados pousam suas asas
voam rente
voam alto
o nada, o tudo proferido

sílabas toscas
o negro tom avermelhado
dizem que tecem os vazios
pousam nas retorcidas vertébras foscas

os versos delimitam
as rimas discorrem
a cerca prende os nós guardados
e o vôo rente/alto
os nossos vôos eles imitam


voarei baixinho
pousando mansinho
o alambrado em ruínas
dança na noite maltrapilha...


e eu escrevo versos
assim, menos sozinha...