martedì, dicembre 14, 2010

Verônica e suas aranhas...


A Lâmpada fluorescente desliza um zunido pelo silêncio da noite. É noite de sábado. Lá fora alguns pingos de chuva escondidos nas folhas do arvoredo se precipitam sobre o telhado de zinco da casa velha de madeira. Na casa há cinco quartos mal-arrumados. As luzes estão todas apagadas. Somente a cozinha permanece iluminada. Já é tarde mas a caneta fantasmagórica insiste em sustar palavras sobre o papel desbotado e abandonado sobre a mesa há anos. Tudo continua intacto na sua casa de bonecas, pensa Verônica, que repentinamente é despertada pelo barulho insano de um carro que atravessa a estrada de chão.

O susto a faz olhar para o teto da casa. Uma aranha negra parecida com as que aparecem em seus pesadelos desce do sobrado. Verônica se detém a imaginar quantas vidas desses seres ocultos se escondem por detrás das paredes ocas do sobrado. Seu medo é que elas caminhem sobre sua cama pequena e vigiem o sono profundo sugando a beleza de sua face desnuda de menina. Nem mesmo as velhas cobertas pesadas de lã podem deter a sagaz habilidade das aranhas venenosas daquele sobrado.

Verônica se lembra da primeira vez que foi picada por uma daquelas aranhas demoníacas que vivem ali. Foi durante a noite enquanto durmia no quarto escuro, do lado da cama da avó. Naquela noite tudo estava escuro na casa, até mesmo a cozinha permanecia em silêncio. Uma traiçoeira aranha portadora de tantas patas entrou embaixo de suas cobertas e sugou a vitalidade da sua coxa direita, ao lado de sua pinta de nascença. Mas só foi ao amanhecer que a menina sentiu a dor da picada invadindo os os poros e as veias. Foi então, tão de repente quanto o amanhecer daquele dia que Verônica viu nascer sobre sua pele um pequeno "cobreiro" que avançava constantemente sobre a perna. As mulheres da casa insistiam em levá-la até a vizinha benzedeira. Mas a menina e as aranhas satisfeitas com o estrago dormiam e acordavam dia após dia atentas ao desmanchar de uma bolha d'água e nascer de tantas outras.

Uma auréola cercada de pequenas bolhas d'água cresceu na perna de Verônica, no interior da ferida para completar a textura, um tom avermelhado fazia parte. A dor era substituída pelo coçar incensante, entre uma bolha e outra de água que estourava. A intimidade entre a menina e o cobreiro aumentavam a cada novo dia. Ela o levava a escola, mostrava aos colegas e assim o cobreirinho as poucos foi se tornando seu amigo confidente das visões que lhe perseguiam durante a noite.

Depois de dias apegada ao pequeno cobreiro, a menina num súbito despertar o viu esmorecer. Viu as bolhas d'água e a auréola vermelha perder as forças diante da destreza das rezas da benzedeira. Aos poucos se foram todos: as bolhas, o tom avermelhado, as margens circulares de seu novo amigo. Nem mesmo a coceira que satisfazia suas unhas dessarrumadas restou sobre a pele. O divino instante da contemplação ia se tornando a angústia de uma perda. A menina, então, começou a se dedicar a "arte do desapego", mas continuava sonhando com as aranhas que invadiam suas pesadas cobertas de lã e invadiam sua beleza, agora, jovial.

Verônica lembra do cobreiro como se fosse hoje, e então é desperta mais uma vez pelo barulho de borboletas noturnas que esvoaçam em torno da lâmpada fluorescente. Mas, das borboletas nascem lagartas, bichos cabeludos e esses também já tinham estado sobre sua pele. Mas essa é história para mais uma noite de insônia. Já é hora de durmir, adentrar no quarto das bonecas e dialogar silenciosamente com os monstros que caminham pelo sobrado. Tudo se fez silêncio e assim sempre o seria ali. Um silêncio ensurdecedor das lembranças de Verônica.

Um ato de contar, quem sabe absurdo, beirando a psicanálise. às vezes tenho medo do escrevo, muito mais do que desejo!!! Mas o papel desbotado e abandonado continua sobre e mesa da casa de bonecas de Verônica há anos!!!

domenica, dicembre 12, 2010

Antes de durmir..antes de acordar...

Solenemente deslizaram
na face invadida por estranhezas...
o toque amargo dos seus passos
o peso, o estar, minha leveza...

Invadiu ladrinhos dos meus lábios
o gosto doce da distância...
resquícios de outros frascos
tênua saudade da tua fragrância...

Se apossaram do meu rosto
sensibilizaram minha madrugada
durmimos juntas sem desgosto
e acordamos com o gosto de um final de tarde

Mas eram apenas gotas...

e durmiam

por detrás do meu pesar
apenas gotas
e queriam
a liberdade de invadir, deslizar, amar...

martedì, novembre 23, 2010

la noche...e eu planto um jasmim!!!

Impressionante o silêncio que se distende na noite. Abalado somente pelo meu frenético teclar. Ouço grilos lá fora, e nem sequer ouço o barulho de um jovem casal de estudante fazendo sexo. Nada, o silêncio soa tão alto que envolve toda a madrugada, já é tarde. Mais uma noite de insônia. Que nada? Olho para minha caixa de "sonhos", dialogo com os amigos fantasmas. A mala já está feita novamente, e eu levo um pouco mais de minhas "plenitudes" e dos meus "vazios" pelo mundo...Amanhã é dia de viajar denovo. Amanhã é dia do vírus da estrada tomar conta do silêncio...

Hoje eu queria uma lareira e vinho, mas no fim das contas preciso dizer que gosto da sagacidade de nossas descobertas em um motel. Nada de romantismo vazio, para saciar nosso ego e completar nossa maneira evaziva de conquistar, quem sabe cerveja e mar.

mercoledì, novembre 10, 2010

Brincando com a solidão...


Misty Mountain...tocando alto nos meus ouvidos, coloquei o fone afinal já passa da meia-noite, hoje é quarta-feira e todos dormem pelos aredores. Blues para tentar passar a limpo o texto que escrevi horas antes no meu exercício diário de pegar um ônibus do centro da cidade até a universidade. Pensava na solidão, sem medo de falar, tocar, sentir. Essa solidão carnal, almática, inflamável, que talvez perturbe, incomode, faz doer. Ou então, seja o sinônimo da minha leveza. Afinal, quem sabe, estar consciente da própria solidão ameniza as tantas lamentações e desagrados na qual tentamos fugir todos os dias. Talvez por que se dar conta da solidão - a mais corriqueira, indócil - é perceber o quanto é simples e singelo se desfazer dela.

E eu não acredito que alguém possa viver sem esta tal solidão, que não é abdusida, nem acabada, nem resolvida pela presença do outro, do efervescente, da sensação de torpor. É uma solidão tão carnal, que ao mesmo tempo induz a alma a voar. E não é nas ruas cheias, nas conversas longas, no abraço apertado, no durmir de conchinha, não é na mera e intensa cotidianeidade que se desmanchar a essência de tal solidão. E como me incomoda quando tentam invadir minha solidão tão tenra, que me completa, me seduz, me induz a um leve final de noite.

Por isso, sai do teatro sem me despedir, peguei o rumo de casa, passei debaixo do ipê roxo da praça, que cheirava tão doce, juntei umas flores e continuei, sem olhar para traz, ou qualquer lado que seja, pois essa solidão me permite ter estes acessos de descomprometimento com o mundo. Volto pra casa...jogo as flores roxas sobre flores secas já "traduzidas" em outras fotografiass velhas...resolvo escrever poesia, luz baixa, Iso alto, e penso no quanto é possível naquelas fotos colocar toda minha solidão: tão mansa, tão plena, tão grata...Cliquei...e por mais que sejam pixels e não sais de prata...brinquei com minha solidão...Quem sabe por que no fim das contas ninguém mais do que eu perceba o quanto esta solidão é uma grande ilusão...me abandono nesta foto, me abandono no meu blues e acabo mais um dia de leve, doce, roxa solidão!!!

sabato, novembre 06, 2010

Noites longas que ficam em mim!!!


vontade ensurdecedora de explodir
tímpanos, poros, película...
garganta úmida divaga
a mudez das tuas mãos me corrompe


Não sou feita de silêncio
mas dorme comigo todas as noites
beija meu colo, tocas minhas costas
inebria as curvas da pele


grita debaixo das unhas
adentra abruptamente nos cabelos
me consome, dilacera a pupila
a palavra em si,
a não palavra


sinto o silêncio
fazemos amor mais essa noite
vais embora e levas a outra parte silenciosa de mim
é hora de durmir!!!

domenica, ottobre 24, 2010

Luz e precipício!!




Na noite calada
Procurei braços. Sentidos. Um abrigo!
Era noite calada.
Esteve Vago. Manso...Comigo!
Em mais uma noite calada...
Desejo ser teu corpo: luz e precipício!

giovedì, ottobre 07, 2010

Los recuerdos!!

Música para explodir os tímpanos. Madrugada a fora. O mesmo quarto.Mais uma garrafa de água. Tomei, também, mais uma garrafa de vinho. Alcoólatra? Dirty Dancing e recuerdos 70', 80'. Ah sim, tenho que terminar dois roteiros. Um plano de estudo. Verdade, nem lembrava mais da dissertação! A mil, metaforicamente, esteticamente. Tudo desliza sobre o papel. Gosto disso, gosto de tudo isso! Vou ouvir mais uma vez as duas músicas. Depois tentar durmir...mas nestes dias me bastam 3, 4 horas. Estou a mil, se não fosse assim!

lunedì, settembre 27, 2010

Amanhã...


Sonhei...
Com o perfume denso da tua poesia
Percorreu todos os sentidos
Adentrou o porto de um navio perdido
Invadiu meus poros e todo meu dia

Despertei...
Com a singela sensação de tempos idos
Mas logo depois - ali - encontraria
Por isso, vaguei pela distância da minha fantasia
E Senti saudade do ainda não vivido...


Estou romântica hoje....e nos últimos dias!! E nos próximos dias!!!

martedì, settembre 21, 2010

Hoje...uma lareira/um vinho!!!


Hoje necessito
de lareira..
de um vinho..
de palavras, de delírios...

sou feita de primavera
de neblina
de intensa nostalgia
dos lábios dóceis da distância
da desperta e perturbada alegria...

Hoje queria diminuir estradas
cortar embaraços
atravessar fronteiras...
teus braços ...

sou feita de uma perturbada destreza
de perturbar teus dias, como os meus
hoje queria lareira, vinho
hoje queria perturbações de nada que é meu...

sabato, settembre 11, 2010

É febre e mais nada!!!

Um corpo em febre...
A noite toda com um frio queimando os ossos
é febre...
queima a alma, os lençóis
avassala a nudez
escorre pelas pernas,
atinge meus pés,
tudo queima, um frio que está latejando
pego uma coberta, tiro outra
é um confuso sentimento de vazio
a febre... dói o corpo
destrói a virilidade
me deixa assim..."a"ssossegada.
Vontade de acordar no meio da madrugada
e escrever...quem sabe dançar
mas é a febre, destrói meus ossos
e faz doer,
fico mórbida, frágil, desnecessária.

E não é poesia,
nem devaneio,
nem intervenção do irreal
é febre na madrugada e mais nada!!!




E até mesmo a febre mais real e carnal pode ser poesia, pode ser refúgio ao desapego, pode ser reflexões dos nossos medos, mas é nada mais que febre, de uma gripe que está começando. Estou indo durmir e parece que está noite a febre vai voltar a durmir comigo: ocupar os mesmos lençóis, dividir meu travasseiro novo, se aconchegar na minha solidão...é febre e mais nada!!!

giovedì, settembre 09, 2010

Tão simples assim...

Um bafo quente
e poros úmidos
uma mão pesada
e podíamos parar o mundo...

lunedì, agosto 16, 2010

varre os segundos...

tudo se espalha
a cama ao lado...
catastroficamente invadida.

desprendo-me
fugaz efervescência da noite
sou poeta,
sou triste
sou cometa

vento,
ventania
quem sabe rosa
violeta...

te quiero em 12 segundos
nada más...

giovedì, agosto 05, 2010

Teu silêncio...minha inquietude...


Arde o sabor amargo do teu silêncio
apenas vulneráveis noites frias
calo meus passos
descalço minha alma pulsante
Minha intensidade me corrompe
e tua quietude me tortura...
Mas não direi: que espero teu silêncio se calar...

domenica, luglio 11, 2010

Lonely, Scared...




Música explode nos tímpanos
desce pela garganta úmida
e pelas viscerais toxinas
coagidas pelas minhas mãos dançantes...


Sou uma astronauta da madrugada
acesa pelo frenético e vulgar contentamento
pura ilusão...
o descontente tédio solitário
Lonely, Scared.
E ao deixá-la...
sempre volto cambaleando!


Construi uma torre de márfim
e lá danço todas las noches, todas las madrugadas
O auto-retrato me miras
Y yo me siento una solitária, católica e loca...


Então danço...
para não voltar a ser normal
para sentir espasmos viscerais
e por que a alma é meu refúgio carnal...


Y Yo también no compreendo minhas sóbrias vontades!

martedì, luglio 06, 2010

o vento chora como criança
suor embaixo das cobertas
aeronaves passam nas madrugadas
delírios amorfos me transportam..
há outros mundos...
fora/dentro de mim...

lunedì, luglio 05, 2010

O dorso do outro...


Uma pele branca
e as pintas desfilam sobre o dorso
um toque singelo
e as mãos deslizam sobre o corpo

E há no mundo algo mais belo
do que o descobrir - sentir... o outro?

Eu desconheço.

venerdì, giugno 18, 2010

Comida de panela e o silêncio de Saramago...


Uma comida de panela. A minha comida de panela. Tudo bem que eu não cozinho tão bem assim, mas tenho aguçado mais meu paladar e meu tato para a cozinha. E no meio da correria, da falta de rotina, são estes pequenos momentos que fazem sentido, que aliviam a alma, que apaziguam a tensão dos músculos: andar ao redor do fogão; ficar embaixo das cobertas; ouvir uma música latina; dançar por dentro; sentir a saudade sem a culpa.

Como disse meu irmão na quarta: Quero ver até quando aguentas essa vida "porra loca". Vai longe, hermano, pero confesso que me gustan la falta de rotina, me gusta también las pequenas cosas cotidianas, que fazem total sentido ao redor do fogão, na cozinha de casa, em uma noite de chuva.

No dia em que Saramago, o grande escritor morreu, eu digo:

"Não direi: que o silêncio me sufoca e amordaça"

me calo e apenas como devagar a comida bem temperada e com muita pimenta. Esse é meu gosto, mas não vou dizer que é meu gosto, por que me calo.

domenica, maggio 30, 2010

Sede de quê?

calor nas minhas pernas
sede
queimam os poros esquecidos
sede
gritam as paixões platônicas
sede


sou água quieta
que deseja sede...

lunedì, maggio 10, 2010

Verônica de joelhos


Foi durante o almoço. Verônica encostou-se à janela de vitral ensolarada, enquanto esperava a fila do bufê farto. Acompanhava o preenchimento vagaroso de cada centímetro daqueles copos tomados pelo suco de uva. As mãos, do jovem que segurava a jarra, eram morenas carregadas de um nervosismo latente. Ela hesitou, mas como resistir sem prosseguir o olhar discorrendo sobre o braço, também moreno do jovem rapaz que servia sucos¿ Ah, e a camisa preta com dois botões entreabertos!

Certamente a camisa do dia de festa, com cara de presente de mãe. Penduradas no pescoço duas correntes eram guardadas, uma com um nítido e reluzente crucifixo. De uma beleza fascinante e perturbadora: o crucifixo, também o jovem. Verônica ainda correu os olhos pela boca carnuda e saliente do rapaz, imaginou a frescura macia daquela jovialidade. Tocou-lhe por fim os olhos negros - ele encabulado os baixou em direção aos muitos copos de sucos a serem servidos.

Carlos contou inúmeras vezes a quantidade de copos sobre a mesa. Os homens chegavam, diziam sua preferência e por fim levavam alguns daqueles recepientes. Queria ter mais tempo para acompanhar os pequenos movimentos daquela mulher de pele branca encostada na janela de vitrais ensolarados. Seus quadris eram largos, não tanto quanto os da mãe, mas saliente como da irmã mais velha. A pele branca como a neve que assistiu pela televisão. Tentou-lhe a boca carnuda e pensou nos beijos que vários homens desfrutaram ali. Mas, Carlos precisava servir sucos, baixou mais uma vez os olhos diante da mulher da janela e já pedia perdão pelas insanidades que acalentavam sua mente.

Verônica serviu seu prato e sentou-se em uma mesa em frente ao bar. A cada pouco tempo perturbava Carlos com um olhar singelo. Ele, no entanto, baixava os olhos negros e servia mais suco para os homens que se aproximavam. E ela sentia sede, levantou-se da cadeira e encostou-se devagar no balcão de sucos. Sem desviar dos olhos do jovem, Verônica lhe suplica em tom macio um suco de uva e devagar toca com as pontas dos dedos a mão que lhe estende um copo. Ela era capaz de sentir naquele toque a trêmula fervura das entranhas de Carlos a lhe desejar. Calada, virou-se, embalou os quadris levemente, atirou os cabelos loiros para traz e pôs-se a andar em direção a mesa. Um ato quase esnobe, se Carlos não tivesse sentido o desejo daquela mulher no seu olhar. Beijou o crucifixo pela segunda vez e serviu os últimos copos de suco.

Depois do almoço todos voltaram aos seus trabalhos. Carlos se refugiou angustiado para o quarto coletivo, ajoelhou-se em frente a imagem de Cristo e rezou. Verônica sozinha pelos corredores do largo prédio sabia que por detrás daquelas portas antigas o jovem de pele morena escondia seus desejos. Vagou durante toda a tarde pelos corredores vazios e gelados a procura daqueles olhos negros, quem sabe de um encontro inesperado.

Carlos durante o banho não queria pensar no toque quente das mãos de
Verônica no almoço. Mas seu corpo reagia contrário as suas condenações, o pênis ereto já gotejava a fúria incontida daquele desejo. Vestiu-se, com a melhor camisa que sua mãe lhe mandara da cidade natal. Penteou os cabelos rigidamente, bateu a porta antiga atrás de si e sumiu também ele pelos corredores longos daquele prédio. Suas mãos suavam, sua pupila permanecia dilatada, os batimentos cardíacos condenavam sua prévia seriedade, tinha que encontrá-la entre aqueles labirintos.

E foi ali no corredor do Seminário antigo que os dois se dissecaram mais uma vez. Verônica encontrou-se demoradamente nos olhos de Carlos, que novamente os baixou e apressou os passos em direção a capela por uma porta entreaberta. Escondida entre os corredores e móveis antigos, a capela permanecia intacta, escura e inexplorada como a pele de Carlos. Verônica discretamente adentrou na sala enchendo de luz o ambiente escuro, explorando cada centímetro daquele vazio.

Tocou-lhe os lábios, sussurou desejos no ouvido e deslizou suas mãos pela pele na camisa entreaberta. O crucifixo permanecia gelado no pescoço, mas podia sentir o corpo de Carlos queimando, então foi ela que beijou de leve aquela cruz. Verônica sabia do tamanho pecado que estava a cometer, e de joelhos pediu perdão enquanto sentia gotejar sobre sua pele branca mais um pouco do desejo carnal do jovem moreno, Carlos – o seu seminarista - que com o olhos, agora para o alto, se sentia o mais abençoado.

sabato, maggio 08, 2010

Construindo contos...eróticos

Irei dedicar um tempo aos contos eróticos. Gosto de ouvi-los, de tocá-los, entoá-los. O erótico que beira o insano, o profano, que constrange, que dá vontade, que sucumbi, que dá brilho no olhar. O erotismo singelo da voz, do olhar, do encontro e do desencontro. Os eróticos momentos de solidão, e os eróticos movimentos em meio a multidão. E se não se erotiza a vida, se perde o sentido, as vontades latentes, não se quebra as regras, não se desfaz os nós dos dias dificultosos.

O erotismo muito mais do que carnal, mas o erótico em nossos sentidos dados em casa escolha. É estranho este momento que me ponho a contemplar histórias de eroticidade e sinto uma imensa vontade de escrevê-las com a perspectiva do meu olhar, sem mesmo as viver.


Sinto que preciso me afugentar uns tempos. Mas, volto já.

martedì, maggio 04, 2010

O ser leve em sua poesia?


Histórias
pedaços de gente
histeria ou amor?


O peso leve
traços desalinhados
a bela tolice
dos insensatos...

Histórias
pedaços de coisas
muro ou depósito?

A leve imagem
divã ao fundo
é poesia amorosa
o fardo do mundo...


sabato, maggio 01, 2010

O alambrado em versos


Arames caídos
nos alambrados pousam suas asas
voam rente
voam alto
o nada, o tudo proferido

sílabas toscas
o negro tom avermelhado
dizem que tecem os vazios
pousam nas retorcidas vertébras foscas

os versos delimitam
as rimas discorrem
a cerca prende os nós guardados
e o vôo rente/alto
os nossos vôos eles imitam


voarei baixinho
pousando mansinho
o alambrado em ruínas
dança na noite maltrapilha...


e eu escrevo versos
assim, menos sozinha...

lunedì, aprile 19, 2010

Cores do verso contorcido na miragem de um jardim...


As imagens que povoam meu contrasenso brotam...
desconexas sensações das folhas que caem sobre a sala.
O inverso do reverso sentido das cores, formas, tecidos.
O verso desritmado dessa noite que chove lá fora.
As flores tocam o cetinoso vazio dos contornos da pele flácida.
E eu vou viajar contigo mais essa noite....
num passo sideral,
mas no inverso, reverso das cores quentes, negras de lâmpadas floridas.

mercoledì, aprile 07, 2010

ali na cerca...desconexões


a água parada na garganta
um torcicolo sobre os ombros
a tendinite no braço direito
as rugas no colo...

Retorcidas reentrâncias de algo/alguém carnal...
e a alma dilacera-se em profundas inquietações.
nada de novo/tudo de novo...

é questão postural
uma cadeira alta
um computador novo
fugazes lembranças
desejo atroz
e entramos no devir...indevido...

é isso...
Boa noite!!
a cama aqui do lado...possessiva...

venerdì, marzo 26, 2010

Vento...invento


És vento...confuso/ atento.
És vento... penetrante/ intenso.
És vento... fugaz/ efêmero.
És vento e invento...


Varre a lateral da minha espinha
seduz meus poros venéreos
as mãos agarram a madeira
retorce a alma.

Ludibria minha sensatez
molha a boca
escorre sobre pêlos minuciosos
invade a alma.

Seduz os olhos úmidos
toca as linhas dilatadas
arrasta os sentidos
penetra a alma.

És vento e invento!
E ainda um restinho de "vento" a latejar.

Poesia inspiarada na música Invento de Vitor Ramil .

lunedì, marzo 22, 2010

As viagens...e os paradoxos


"Se nossa vida fosse dominada por uma busca de felicidade, talvez poucas atividades fossem tão reveladoras da dinâmica dessa demanda - em todo seu ardor e seus paradoxos - como nossas viagens. Elas expressam - por mais que não falem - uma compreensão de como poderia ser a vida, fora das restrições do trabalho e da luta pela sobrevivência".

Alain de Botton in A arte de viajar

mas nas viagens continuam nossos paradoxos intrínsecos a condição de humanos, na saudade de casa, dos que ficaram e nossas apropriações. Então, voltamos, e o cotidiano paradoxo da existência persiste.

sabato, febbraio 27, 2010

Boa noite, Verônica


é silêncio...é noite
Tambores ressoam do íntimo
Tudo é silêncio
Nada é silêncio

Ambiguidades. Fluidez
Tudo é construção

Ah, os humanos, vagos humanos
No estático perdurar da vida
E as águas marinhas...
com vida eterna

Mas nada é eterno
Tudo é eterno
Terno e interno
silêncios que gritam
E as pesadas mãos sobre o piano:

Boa noite, Verônica!!!

martedì, febbraio 02, 2010

escrevo poesias...também...nos finais de tarde

Me trouxeste flores...
amores
o perfume denso de rosas...
pequenas
o toque aveludado de mãos...
calejadas

Me trouxeste melancia...
coco verde
tranças de uma china
e versos rimados andando...
de tarde

Fizeste renascer...
a velha bruxaria
desceste do cavalo...
e
entre arames enfeitados...
mais aquela noite


Mas, insiste em ir embora

desce rente ao castelo
para lá do outro lado...
do brejo
lá princípe não tem beijo ...
de princesa
aqui...
eu sapo vivo de desgosto....

martedì, gennaio 19, 2010

A tarde mais longa...

A porta não abre.
Já é final de tarde.
Não ouço passos no corredor.
Só o silêncio.
Perturba.
Machuca.
Invade.
O cheiro não desliza pelas horas vagas.
Nem o toque calmo é na pele dado.
Só o vazio consternado.
É silêncio.
E eu divago.


Durmi hoje até tarde.
Confidenciei para as paredes claras a ausência.
Os braços retorcidos.
O relógio despertava.
Permanecia ali deitada no soar da chuva.
E chovia. Chovia.
E eu vazia, queria nada.

É final de tarde.
Desligo o computador.
Viro as costas.
Fecho a porta.
Vou embora.
E hoje foi o dia mais longo daquele lugar.
E eu a divagar.