giovedì, aprile 27, 2006

O fato é que ela, ele estavam lá...

Dentro de mim, dentro dela...

De longe o sol apreciava a imobilidade fria daquela construção. Perdida no meio do nada, ela permanecia intacta e soberana. Os raios do sol ultrapassavam suas vidraças antigas e grandes e cobriam seu interior com riscos de luz que se confundiam com a poeira envolta no ar.

Ao seu lado, permanecia parado o sino que antes tantas vezes fora tocado. Dono de seu próprio ritmo, no alto da armadura, ele busca resguardar sua eterna companheira imórbida sensação de vazio.


Da casinha ressaltava suas grandes portas e janelas e a curiosidade de desvelar aquele mistério instigava meu espírito inconformado com a ausência de definição.

Abri a porta lentamente, deixei que uma fresta de luz entrasse pela sua beirada entreaberta. Aos poucos aquela escuridão sóbria foi se desfazendo e a luz que antes era uma mera invasora, agora vai dando forma ao que lá dentro permanecia intacto e desconhecido.

Devagar a cadeira balançava num ritmo constante e por vezes parecendo sem vida. O barulho do balançar da cadeira não me incomoda tanto quanto a presença dele sentado ali naquele lugar.

Permanecia ali, sem notar minha presença, concentrado nas páginas de um livro, percebi que em sua mente perpassava idéias e dúvidas. Em alguns momentos descruzava as pernas num movimento bruto, mas de nenhuma forma desviava o olhar daquelas páginas que já faziam parte até mesmo do movimento ininterrupto e perturbador.

Pele morena, óculos postados sobre os olhos, cabelos desarranjados, uma roupa condizente com o ambiente sombrio, porém não menos digna.

Não tive coragem de me aproximar e nem quis reconhecer seu rosto. Estava consciente de que aquele era seu mundo e não devia perturbá-lo. Lentamente dei dois passos para trás em direção a porta, toquei na fechadura gelada e sem qualquer sinal de transtorno sai devagar, dei uma última olhada e fechei a porta.


A luz da porta se apagou, mas das janelas o sol ainda brilhava constantemente. Nas escadas mais uma vez aprecio aquela atmosfera de sobriedade da velha casa. Estive com o poeta que insiste em persistir dentro de mim, mas dele não quis nada, nem mesmo perceber seus traços, quero apenas a dignidade de suas poesias construídas no balançar da cadeira. E o sino a de tocar quando a próxima poesia nascer daquelas páginas e daquele ritmo constante de vida.


Poesia, luz, sombra, sem forma e cor, apenas vida... Fotos de uma simples igrejinha perdida no Campus da Universidade Estadual de Londrina.

lunedì, aprile 24, 2006

Meu Deus! Esqueci do Jornalismo! Mas lá vai minha homenagem...

Às vezes me perguntam seu eu sei tal coisa, ou sei falar tal língua, ou li tal livro? Se disser que não a indignação é imediata, afinal como podes não saber qualquer coisa se fazes jornalismo?. Mais uma vez a sociedade acredita que cabe ao jornalista saber um pouco de tudo, ou muito de tudo, mal sabem eles, que maioria das vezes nossos jornalistas não passam de seres limitados à técnica da comunicação.


Alguns entram na universidade de comunicação conhecendo somente o jornalismo das telinhas, a voz do Brasil e programas musicais. Então seu sonho não ultrapassa o desejo de substituir a Fátima Bernardes, e é claro, casar com o Willian Bonner. Outros querem apenas apresentar a Voz do Brasil, ou então apresentarem um programa da Rádio Atlântida, e outros apenas querem ser contratados pelo Diário de Santa Maria.

E essa limitação de fronteiras do jornalismo que muitos vêem, faz com que esses jovens se vislumbrem pela técnica dos laboratórios e esqueçam que seu principal diferencial de um verdadeiro jornalista é sua bagagem cultural e teórica.

Eu sei que nada mais sou do que uma acadêmica de jornalismo idealista e por vezes precipitada em conclusões. Entrei na faculdade buscando encontrar futuros jornalistas muitos idealizados. Os jornalistas que imaginava encontrar era aqueles que lêem mais, que criticam mais, que vivem mais, que se engajam mais e que se permitem sentar num bar no fim da noite para uma socialização informal, necessária e saudável.

Mas encontrei na faculdade um “mundinho” permeado pelo imediatismo da técnica, pela imaturidade de seus indivíduos, pelo vislumbramento na telinha da TV e pela necessidade de competição até mesmo com os morcegos da Facos. Pensava eu na minha vã inocência, que na universidade encontraria um último porto seguro antes do mercado de trabalho. Mas percebo então que esses jovens e futuros jornalistas, sem se dá conta da ignorância que os cerca transferem para dentro da universidade esse mercado viciado, hipócrita e que serve de mero instrumento de interesse de empresas pouco preocupadas com a representação justa e séria da sociedade.



Mas o fato é que hoje lemos pouco, escrevemos menos, criticamos quase nada e a socialização é uma mera ilusão que esconde o desejo de se mostrar melhor do que o outro. Sim! Senhores! Sinto-me frustrada. Principalmente por que perdemos o verdadeiro sentido do jornalismo como representante da realidade e permitimos que jornais impressos sirvam apenas para enrolar peixe, que a maior audiência seja do Big Brother Brasil e que os programas sejam cada vez mais musicais.

Não sei qual o erro, mas sei que fui iludida, porém, ainda acredito na escrivaninha com livros, na luz baixa no fim da madrugada, na caneta e no papel. Acredito que vale a pena uma conversa informal e verdadeira entre colegas, acredito também na técnica, mas principalmente na idéia e na construção do New Jornalismo. E aí, sim, vejo uma nova possibilidade de escrever com paixão sobre a profissão que amo, choro, luto e quero como ideal.

O7 de abril! Dia do jornalista! Já que não somos decentes o suficiente para conquistar todos os dias como nossos.

Perdida Perfeição Encontrada...

A perfeição eu descobri
Porém logo ela passou
A perfeição eu perdi
Por que tão breve ela soprou

5 coisas das 4 que esperara
Sorriso calmo penetrante
No olhar percebera
Mas a verdade é distante




Breves momentos que a viste
A perfeição foi percebida
E a voz ainda insiste
Da minha vida não ser banida.

Mas a perfeição é assim
Tão breve quanto o vento
Passa ligeiramente por mim
E agora só resta pensamento..



Um leve poesia escrita durante o Sulpet em Londrina, entre longas discussões nada como escrever, sobre a "perfeição" que encontramos nesse caminho. E para ilustrar ou sbentender essa perfeição trago essas fotos do Céu a caminho de Londrina, ao amanhecer já no Paraná registrei esse belo momento da janela do ônibus. Uma variedade de tons que também representa uma variedade do que percebemos como perfeição.

lunedì, aprile 17, 2006

Alma, nada e o tudo...e o reflexo??

Reflexo da alma

Reflexo de tudo

Reflexo do nada

Da alma o tudo ou o nada



Do reflexo, minha alma vazia do tudo que não me deste...

E por que deveras me daria?

Se do meu reflexo nada tens

e da minha alma tudo te pertence!!

De uma folha seca, os motivos de muita inspiração...

As coisas passam tão rápido que não nos damos conta da simplicidade de certas ações e nem de certas idéias. Ontem me perguntaram de onde eu tirava tanta inspiração, e a pessoa que me perguntou isso, disse que ele pensa em coisa tão vãs, que parecem não ter importância. E aí eu disse que é nessas coisas, que aparentemente nos parecem simples que encontro a total diferença na hora da criação.

E hoje aconteceu uma situação muito curiosa, que de certa forma explicou o fato das coisas simples serem motivos de inspiração, até mesmo sendo algo extremamente trivial. Mas aí fui até o dicionário para saber qual o significado agregado a trivial. Entre várias explicações, uma dizia que trivial era aquilo que todos sabiam. Então percebi que esse é o segredo pela qual as coisas simples são motivo de poesia, de criação. Pois, quando são conhecidas por todos, elas já não tem o valor que merecem, por serem totalmente conhecidas. Daí, cabe a nós arrancarmos dessa trivialidade o que ali está escondido, desconhecido por todos. Nesse momento chegamos a criação, a poesia, e a sensibilidade.

Mas como disse anteriormente, hoje, uma coisa que a princípio parecia trivial me despertou um mundo de criatividade, um momento feliz de encontro comigo, com minha paz interior e com meu momento de reflexão. Estávamos gravando perto do bosque da universidade e um amigo brincando, de repente, até mesmo inconsciente juntou uma folha seca de plátano e me deu de presente. No mesmo instante fizemos uma brincadeira, ele me disse para guardar na agenda, e eu ainda acrescentei que não só guardaria, como também colocaria uma referência a ele. E de fato carreguei comigo a folha! Num lapso, me veio a mente dúvidas a cerca do significado daquela folha.

Como uma boa virginiana, nada passa por mim sem ser analisado, sem ser julgado e sem ter uma serventia. Então inquieta fui para casa, insatisfeita com a falta de resposta, pois percebia que aquela folha tinha um motivo para estar ali naquele momento. Troquei de roupa, e fui até o bosque caminhar, coisa que a muito tempo não fazia, desde os tempos que quebrei meu pé. Caminhei, caminhei e pensei! Almejava entender como poderia usar aquela ou aquelas folhas na minha vida. E de repente de novo como num lapso criativo, vou para debaixo daquelas árvores e começo a juntar muitas daquelas folhas, grandes, pequenas, tortas, e aquela atitude além de despertar a atenção de quem passava, me trouxe um prazer e uma paz tão grande, que a muito tempo não sentirá. Passei, então, a entender o por que dela estar ali. Primeiro por que parei para dar valor a uma coisa tão prazerosa, quanto tirar um tempo para a gente mesmo e depois por que tinha encontrado a explicação para a pergunta do dia anterior, de como eu conseguia me inspirar.

Depois da coleta das folhas, aliás muitas, comecei a juntar as pinhas pequeninas, dos pinheiros e cheia de pedaços da natureza que caracterizavam o outono e o inverno fui para casa, realizada, feliz, calma. Ao entrar no meu quarto, usei aquelas folhas para coisas bem interessantes. Arrumei meu mural, fiz um arranjo e meus milhares de bibêlos dividiram espaços com coisas da natureza, que combinavam com esse clima de friozinho que desponta aqui no sul.

É isso, as coisas pequenas e triviais, por mais que sejam conhecidas por todos escondem minúcias, que temos que ter a sensibilidade de perceber. Pois veja Rafael! De uma folha simples que ganhei do Betinho, fiz esse texto, que pode não ser o melhor do meu blog, mas com certeza da chance para muita reflexão. Isso é inspiração, isso é não deixar de ver nas coisas banais uma beleza inexplicável.

domenica, aprile 16, 2006

Aquelas primaveras e o outono de hoje...

O sol desponta lá fora
Cobre a primavera de luz...
Esquenta o outono de agora.

E eu aqui dentro lamento...
Saudades das primaveras .
E daqueles outonos.

De sentar ao sol na pedra no inverno.
De plantar as flores na primavera

Mas restam saudades daquela infância.
Resta saudade do tempo que não volta mais

Pois voltar somente às estações e os astros.
Pois sua dimensão é suprema.
Quem sabe um dia me torne brilhante que nem ele.

E possa voltar! Ao menos as lembranças persistem.
E as primaveras e outonos continuam no mesmo lugar...

Hoje sinto saudades da minha terra e da minha gente...Mas é páscoa e nada que um chocolate não apazigue...

sabato, aprile 15, 2006

Páscoa e agora o que dizer...

Bom como não achei nenhuma foto de coelhinho, coloquei essa para ilustrar esse post sobre a Páscoa. Uma foto do artesanato do Peru, que me lembra um pouco a infância. E para falar da Páscoa não tenho como não falar da minha infância. Hoje mesmo o caderno Cultura do ZH me despertou lembranças da minha velha infância e das minhas velhas páscoas. Pois como na campanha gaúcha, também na minha cidade a Via-Sacra representa o cultivo da tradição católica de recomendação das almas.
Lembro-me perfeitamente de como era importante para nós criança participar da Via-Sacra na sexta-feira santa e no sábado de aleluia. Primeiro por que na páscoa a comunidade se enchia de parentes de longe e então éramos observados por pessoas de fora, depois por que tínhamos um papel muito importante na via-sacra, segurávamos as velas de cada estação, que representavam a passagem de Jesus. Segurar a vela representava segurar um posto importante da caminhada de Jesus. Por vezes queimávamos os dedos, as velas se apagavam, já que a via-sacra era feita na estrada de chão batido, cada estação era longe uma da outra e em casinhas com cadeiras esperávamos ansiosos para ver a procissão passar.

Quando a procissão passava era o auge da nossa emoção, pois todos viravam para nós e juntos nos observavam rezando...Louvado seja nosso senhor Jesus Cristo/para sempre seja louvado. E assim a procissão seguia, depois que todos passavam, eu avistava meu pai que sempre nos ajudava a carregar as cadeiras, pois depois da caminhada voltávamos para a igreja, onde Jesus permanecia deitado no calvário anteriormente construído, certamente com nossa participação. No sábado era o dia da ressurreição de Jesus, depois de mais um culto, todos beijam os pés de Cristo ressuscitado e eu me lembro a emoção de sentir meu pai me erguendo para alcançar os pezinhos dele.

A procissão anda, assim como nossa vida também tem sua caminhada, hoje a páscoa para mim já não tem mais aquele encanto, primeiro por que já não acredito mais cegamente na igreja e já não me faz sentido a procissão e o beijo nos pés, vai ver por que agora meu pai já não precisa mais me erguer. Segundo por que nem sempre conseguimos mais passar a páscoa naquele velho lugar, hoje estou aqui em Santa Maria escrevendo num blog, em Charrua com certeza, minha mãe e meu pai organizaram mais uma procissão e beijaram os pés de Cristo e com certeza, lembram com saudade dos tempos que éramos pequeninos, nos preparávamos ansiosamente com a velinha acesa, necessitávamos de ajuda para carregar as cadeiras e para beijar os pés de Jesus.

Essa páscoa me lembra saudade e por isso venho até aqui para esvaziar um pouco dessa
angústia através de palavras, e para desejar a todos uma ótima páscoa e quem tem a oportunidade de estar perto da família aproveita, pois eu nesse momento choro de saudade das procissões, das rezas, da crença de que tudo aquilo é verdadeiro e principalmente da minha terrinha e da minha família.

Muita paz e luz para todos, façam de minhas lágrimas a força de que todos precisam para manter viva a chama de amor em qualquer família.

Um pouco do mundo das Cênicas, antes não descrito...

Vencidas algumas barreiras do mundo das Artes Cênicas, venho até vocês pra descrever um pouco desse mundo, que para muitos parece banal, até mesmo fácil, creio que um dia também pensei assim, até o dia em que resolvi encará-lo com uma possível futura profissão.



Entrei nas cênicas acreditando que tudo não passava de um conto de fadas, já tinha feito teatro quando mais nova na escola, e sinceramente mesmo depois de grande acreditava que as Artes Cênicas se resumia, a ler um texto e interpretá-lo e tenho certeza que não só eu dessa forma pensava. Santa ignorância!

Bastou uma semana de aula para me dar conta de muitas coisas precipitadas que julgará, pois os textos, amigos, só vêm depois de muito tempo de trabalho com o corpo, com a mente, enfim, percebi que de fácil aquele mundo não tinha nada. E num primeiro momento acreditei que meu forte era jornalismo mesmo, e de certa forma é.

De repente percebo através das aulas de expressão corporal e vocal e técnicas de representação e encenação, sem falar das teóricas que a coisa era bem mais complexa do que imaginava. Fui percebendo que não sabia caminhar direito, respirar, ter postura, ter controle nenhum sobre meu corpo. Diziam-me que tinha que segurar num tal de “cochi”, ou “dantenko”, mas desses não sabia nem como escrever, quanto mais segurar meu corpo através deles. Nas técnicas vocais minha voz, não tinha noção de mudança entre grave e agudo e eu não passava de uma desafinada voz perdida nesse mundo das cênicas.

Diziam-me que tinha que ter foco preciso. Primeiro o foco depois o corpo, sempre fazia ao contrário, me desesperava quando tinha que fazer uma improvisação. Pensava, pensava, agora ergo o braço, depois faço tal coisa e desse jeito travava qualquer improvisação natural e verdadeira. O Professor Cezário (uma perda enorme no nosso curso, pela sua ida) nos fazia cantar musiquinhas das Laranjas na beira da estrada, e eu não conseguia gravá-las.



Passo ternário? O que é isso? Não sei nem dá passos unitários! Dança dos ventos, queria mesmo que o vento me levasse para bem longe dali, tinha vontade de fugir. Exaustão? Meu Deus, mais exausta que ficava com tanta frustração. Verticalidade luminosa? Quem me dera enxergar alguma luz no meio de tantas dúvidas. Bom, depois dessa descrição de fracassos, de choro pelos corredores do Cal, de crise de identidade, muitos pensam que deveria desistir, aliás eu também pensei nisso muitas vezes, afinal minha vida no jornalismo é tão boa, lá tenho segurança, um caminho quase construído, uma noção básica , mas real da técnica e da teoria. Mas aos poucos fui me apaixonando perdidamente pelo teatro, pelo CAL, pelas Cênicas. E depois de me apaixonar por esse mundo, tenho certeza que não quero perdê-lo. E aí a frustração é por não conseguir me dedicar a ele exclusivamente. Mas há tempo para tudo nessa vida.

Aos poucos percebo a grandiosidade do jogo com o colega, a troca de olhar, a fuga, a expressão, a velocidade, a mudança do foco preciso, a variação de tonos. Em fim começo a descobrir meu “cochi” ou “dantenko”, quatro dedos abaixo do umbigo, nosso tesouro nosso centro de energia, de equilíbrio, de vida. Passo a soltar meus ombros e perceber meu corpo, minha voz, minhas fraquezas.

Percebo a importância de se passar meses para ensaiar uma cena de 10 minutos, percebo a importância do jogo, da construção de um personagem, da junção de partituras, da adequação do texto, da análise do mesmo e principalmente da avaliação de quem assiste. Percebo o quanto é apaixonante passar um dia todo em função do teatro, horas de ensaio e sair 3 horas da manhã do CAl.



Ainda penso muito quando vou agir, mas recém estou começando, mas a paixão por esse mundo me fez perceber muito mais do que o fracasso, mas também me mostraram a possibilidade de conhecer a mim mesmo e a possibilidade sim de ser também atriz.

Explicação da peça das fotos...

Nada pode ser comparável à sensação se passar uma semana inteira ensaiando, construindo uma partitura do nada, ensaio de mesa, ensaio com jogos, com estímulos, tesão pelo jogo, pelo texto, pelo personagem. No dia da apresentação parece que nada funciona, o figurino não fecha, o vestido cai, a voz não sai adequadamente. Meu vestido vai cair e tenho que estar preparada para isso, então ensaio de peito de fora, e sem qualquer vergonha tenho que controlar meu medo, meu constrangimento. O figurino do outro personagem não se adequou e temos que rever, ele tira a roupa, temos que improvisar. E o espetáculo está quase começando, estamos atrasados e muito. A tensão aumenta, aquecemos, ajeitamos a luz, a música, à voz, desejamos muita merda um ao outro (merda significa boa sorte). O público entra a música sobe, as luzes se apagam, a música desce, nós entramos.

Eu construo o leito florido, espero meu amado chegar, ouço seus passos, bebo do seu vinho e me entrego a sua vontade, gozo e depois simplesmente me abstraio desse mundo. 5 minutos o espetáculo acabou, meu vestido não caiu, não percebo quem é o público, só percebo meu coração disparado, pois estava simplesmente em estado de êxtase, pouco me lembro, pois estava em outra dimensão. Aos poucos aquela sensação vai se desfazendo deixo de ser a personagem e volto a minha realidade. Sou avaliada, e dizem que posso ser além de jornalista, também uma atriz, segundo eles tenho presença. Mas não era eu, era a amada.


Sensações, percepções, frustrações esse é o mundo das Artes Cênicas. Mas ninguém me disse que seria fácil, foi apenas uma conclusão precipitada. Quando tiverem oportunidade prestigiem, apóiem, mas não batam palma se não gostarem e nem riem se não for engraçado. Pois a dignidade é a maior virtude do artista, e se nada em ti despertou não finja através de palmas uma aceitação forçada, apenas se dirija a saída e não desista de voltar pois as portas da arte sempre estarão abertas a novas descobertas.

*Obs: O rapaz da foto é meu colega Henrique, que foi um guerreiro comigo, pois essa peça construimos em uma semana, depois de muita discussão e força de vontade. Mais uma coisa, ele não está nu, existe uma tanguinha que esconde suas indecências, ehhehe. Um momento muito difícil foi vencer nossos constrangimentos. Valeu Henrique pelo parcerismo e pelo profissionalismo. E ao nosso diretor Deivid pela coragem. Muito orgulho tenho de fazer parte dessa turma e desse mundo. E muita merda pra nós, em todos os palcos dessa vida.

"Temos as horas, eles o tempo"...

Acabei de assistir o Globo Repórter e a vida dos povos nômades da Mongólia me fez lembrar um pouco do que vi na Amazônia e creio que não descrevi, ainda. Durante uma migração do povo nômade, uma frase foi dita por aquele povo, “vocês têm a hora, e nós o tempo”, no caso nós seres ditos como “civilizados” temos a hora, pois dependemos totalmente dos nossos relógios e da lógica do tempo imposta pelo mercado de trabalho, pela sociedade capitalista. E eles têm o tempo, pois dependem do tempo da natureza, das variações do ano, do tempo natural de todas as coisas.

E isso eu percebi que também acontece com o povo indígena tukuna, na Amazônia. Apesar desse povo já estar de certa forma bem civilizado, com televisão, telefone, enfim já conhecer um pouco da lógica dos nossos relógios, eles ainda mantêm um ritmo natural de vida. O que mais me chamava à atenção que para os índios não tinha horário para fazer brincadeiras, para tomar banho de rio, para andar de canoa pelos igarapés. Quando foram desafiados a uma oficina de artes, não tinham horário para terminar, para comer.


Enquanto nós éramos totalmente regrados pelo relógio e tínhamos hora para tudo, eles simplesmente deixavam o tempo passar numa boa, curtiam aquele momento como se fosse único e nem se davam conta de que já passara uma manhã, uma tarde, um dia.

Nós poderíamos julgar essa forma de vida como a errada, de gente “preguiçosa”, e eles poderiam julgar nossa dependência de forma errada, coisa de gente “louca”. Mas o fato que não existe um certo e nem um errado, existe pessoas que foram criadas dentro de sistemas sociais diferentes, se é certo ou errado não cabe a nós julgar.



Eu acredito que nós, sociedade com relógio ultrapassamos o limite do controle das horas e somos totalmente dominados pela engrenagem do relógio. Enquanto os índios, os povos nômades, enfim os que possuem o tempo, dependem somente do pôr-do-sol e do despontar da lua, e não que isso os aprisione, mas ao contrário os guia. E sinceramente, hoje, era essa forma de tempo que gostaria de ter, afinal nunca gostei de relógios mesmo, gosto de vida e de natureza, mas infelizmente isso não basta para o tipo de sociedade na qual estou inserida, na qual estamos inseridos.

Eles quando morrem não deixam nada, nem capital, nem marcas, deixam apenas a natureza, o sol, os rios e sua vontade de viver livremente. Nós deixamos as propriedades, nossos ditos “legados’, mas principalmente deixamos o aprisionamento de um tempo guiado por horas para nossos filhos, infelizmente.

mercoledì, aprile 12, 2006

As meninas tukunas e suas tradições...

Por que trazer até vocês as fotos dessas doces meninas tukunas? Por que são muitas as coisas que fazem com que suas vidas seja interessante para nós, meros espectadores, é claro.


Primeiramente indenpendente de menina ou menino todas as crianças tukunas quando nascem são pintadas com jenipapo, assim como a gente estava pintado, só que eles pintam toda a criança, pois acreditam que esse ritual vai proteger a criança dos perigos do mundo.


Mas o que é o jenipapo? O jenipapo é uma fruta verde, e muito consistente, não sei ao certo se é comestível ou não, sei que não quis me arriscar. Depois de coletada, os índios ralam a fruta e misturam um pouco de água, depois de bem esmagada a fruta vai soltanto uma tinta preta, que foi da qual nós nos pintamos. O jenipapo leva de duas a três semanas para sair e muitos tiveram a oportunidade de nos ver pintados. Uma experiência incrível, pois eles acreditam que esse corante natural protege para muita coisa, além de ser um repelente natural, já que lá mosquito é o que não falta, de certo forma creio que nós incorporamos um pouco daquela força do jenipapo. Não sei mas eu, particularmente, senti uma grande energia quando me pintei, e uma paz muito grande, necessário para aqueles dias.

Depois gostaria de ressaltar a indenpendência das meninas, que desde cedo cuidam dos irmãos mais novos, isso sem falar na sua indiscutível beleza. Nossa, é muito impressionate a beleza das meninas indígenas e de seu sorriso maroto.


Outro motivo pela qual quero falar das meninas tukuna é pelo fato de elas serem o grande incentivador do cultivo de uma das mais fortes tradições deles: A Festa da Moça Nova, essa festa marca a passagem da menina para a vida adulta, para nós a primeira menstruação. Primeiramente a menina é mantida em reclusão e tem contato somente com a mãe, nesse período ela aprende a fazer os artesanatso da aldeia, com as fibras e corantes. Passado esse período de reclusão a comunidade se reune num local um pouco distante do centro da aldeia, chamado Casa de Festa da Moça Nova, os índios levam suas redes e lá permanecem em três dias de festa, bebendo suas bebidas tradicionais e dançando, depois de muitos rituais o cabelo da moça nova é todo arrancado, pela mãe e pela avó. Eles acreditam que esse ritual, se completará quando o novo cabelo nascer e junto com ele uma nova mulher preparada pra vida, para ser mãe, esposa.


Por isso trouxe até vocês um pouco dessas meninas, que são motivos do cultivo de tradições que aos poucos podem ir se perdendo. Mas o importante é que ele ainda se mantém e que se depender da falta de meninas para acabar, creio que não vá ser problema pois elas são muitas, bonitas e carismáticas.




lunedì, aprile 10, 2006

Espinhos e flores...

Espinhos os quero sentir, pois não doeriam tanto quanto a falta de uma flor.
Flores me arrancariam lágrimas, pois não sei como aceitá-las.
Dos espinhos a pontiaguda forma da vida
Das flores o cheiro estonteante da agonia
Se juntos se completam, separados não seriam...
Mas dos espinhos verei brotar sangue
E das flores verei brotar a seca.



Se me perguntares de qual gostaria mais de Ter para minha vida
Diria, meu bom amigo, que entre flores e espinhos
Fico com o desejo de não possuir a nenhum deles,

Enquanto aos dois espero.

Coincidência?? Mas o céu estava azul...

A certos sentimentos que são inexplicáveis, como por exemplo a emoção que sinto a cada novo jogo que o Grêmio entra em campo. Pois torcer para o Grêmio não é uma das missões mais fáceis, já que convenhamos nosso time é o campeão da instabilidade. E instabilidade é sinônimo de insegurança.

Sim, insegurança era o que sentia quando começou o Grenal desse final de semana. Acreditava sim que iríamos ganhar, mas como já disse em se tratando do Grêmio qualquer coisa pode se esperar. Assisti o primeiro tempo sozinha, não queria dividir meu nervosismo com ninguém. No intervalo sai para dar uma espairecida e para ver a agitação dos torcedores mais fanáticos.

Nesse momento de reflexão lembro de um texto que já escrevi aqui sobre a outra façanha gremista, quando saímos da segundona. E então me vêm a memória aquela velha pergunta já me feita uma vez: De como eu poderia gostar de um esporte de massa? Pois é, não gosto de muitas coisas que são consideradas de massa, mas confesso que futebol mesmo sendo de massa, me desperta sentimentos e paixões impressionantes e de que não pretendo abrir mão nunca.

No segundo tempo arranjo parcerias para ver o jogo, um colorado e um "Não to nem aí". Aí a coisa fica bem melhor, primeiro por que é sempre bom Ter torcedor adversário do lado, mesmo correndo dois riscos: Um de tirar com a cara dele, ou de ouvir o cara te tirando. E segundo por que o jogo começou a esquentar e o primeiro gol apareceu. Então aquela velha história , do filho da puta pra cá, do filho da puta pra lá. E tenho que ouvir o cara me tirando do lado e ainda todos os colorados filhos da puta dos meus vizinhos gritando.

Mas como eu disse em se tratando do Grêmio tudo é possível e tudo é muito mais emocionante, bastou dar uma olhada para o céu lá fora, para que pudesse dar o troco aos colorados que me encheram o saco. E é isso, faltando minutos para acabar o jogo , o colorado que estava sentado do meu lado se levanta e some porta a fora, sem nem mesmo se despedir, o "não to nem aí", ri de toda a situação e eu mais uma vez emocionada, não consegui ainda achar resposta para aquela velha indagação: Se existir emoção maior do que ser gremista me avisem, pois eu desconheço totalmente.

Assim, comemoro, choro e olho para o céu que coincidentemente estava tão azul como as cores do nosso timão. Tricolor, não tem preço essa emoção!!!! essa foto foi tirada momentos depois de acabar o jogo. Natural e lindo como somente o nosso Tricolor é.

martedì, aprile 04, 2006

Um momento de reflexão...

Por vezes paramos no meio da rua, ou simplesmente pensamos em tudo que vivemos, ou então não pensamos em nada. Parece que estamos perdidos a procura de algo, mas na verdade nesse momento encontramos com nós mesmos. E como isso é difícil.

Por vezes andamos descalços nas ruas e nem nos damos conta da brutalidade do chão, por que de repente ele nem existe sob nossos pés. Olhamos para o nada como se buscássenos o inatingível, mas se para nosso olhar o horizonte é limitado para nossa imaginação, não.


Não sei ao certo o que essa criança pensava parada ali no meio da rua do Mercado Público de Tabatinga, só sei que nessa imagem, revivi e pensei sobre muitos momentos da minha vida, que parada, sozinha, e de pé descalço procurava um chão para minha vida, ou apenas um horizonte para olhar.

Com as mãos juntas ou separadas como se batêssemos palma para a vida, nos mantemos sempre a olhar para frente e a buscar encontrar um caminho para guiar nosso pés descalços.

Uma pequena reflexão para a correrria de nossos dias, em que nos privamos de parar para pensar sobre nossa condição.

Um brinde...

Apenas um brinde ao aniversário do meu blog e as postagens que estão sendo feitas e me deixam bem feliz...Tomando caipirinha na Amazônia.

lunedì, aprile 03, 2006

Comemorando entre palavras e imagens...

No aniversário de 60 postagens no meu blog, venho até aqui para retomar e de certa forma responder a uma pergunta já feita anteriormente por Leonardo da Vinci: “ Se possuirmos a imagem de uma pessoa amada e um poema sobre essa pessoa, a qual daremos preferência??”. Bom. Eu sou uma grande amante das imagens e das palavras e com essa mescla de linguagem procuro alimentar este blog e minha própria vida.

Não sei ao certo se existe uma resposta exata a essa reflexão e nem desejo que vocês a tenham, pois se escolhemos por uma estaremos abrindo mão da grandiosidade da outra.

Evgen Bavcar diz que é difícil falar da imagem sem relacioná-la à palavra. Essa dupla, imagem-palavra, ao mesmo tempo reunida, hoje e antes, separada, é, no entanto, difícil de compreender e, sobretudo, de conceber como uma igualdade recíproca ou como uma ligação fatal, em que uma sobrepunha à outra. Evidentemente é uma reflexão ao alcance de todos, e cada um pode Ter sua própria resposta, ou, antes, sua própria pergunta.

Assim como há uma subjetividade por detrás das lentes de uma câmera, que remete a escolha do que deve ser mostrado, da seleção de uma entre milhares de possibilidades de mostrar, também existe um jogo de fantasias, quando se deixa brotar do pensamento incontidas palavras.

Tanto a imagem quanto as palavras para mim representam a arte por excelência. Se anteriormente Aristóteles já citava a imagem como um desvelamento, pois seu sentido fora retirado da imaginação (fantasia) seu nome vem de luz (faos) por que, sem luz não é possível ver. Também Pablo Neruda busca nas palavras a descrição para seu sentido completo: Pois segundo eles as palavras Têm sombra, transparência, peso, pernas: Têm tudo que lhes foi agregando da tanto rolar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto serem raízes...São antiquíssimas e recentíssimas.

Então, não pretendo fazer uma escolha entre imagens e palavras, mas sim usar-se da grandiosidade dessa mistura para lhes servir nesse blog através de imagens e de palavras fragmentos de percepções que tenho desse mundo e de tudo que faço. E se imagens e palavras são arte vale lembrar Maurice Merleau- Ponty: “É a felicidade da arte mostrar como algo se põe a significar, não por alusão a idéias já formadas e adquiridas, mas pelo arranjo temporário ou espacial de elementos.

Mercado Público de Tabatinga

Sábado de manhã, chovia em Tabatinga, o que era muito comum nessa época do ano na Amazônia. E nós tinhamos a manhã livre para conhecer a cidade. Mas eu queria mais, estava ciente que minha grande vontade era conhecer o Mercado Público, que antes tinha visto pela Televisão.

Então, prestigiando minha vontade descemos até a beira do rio Solimões, onde ficava o Mercado Público e encantada passei algumas horas fotografando e filmando aquela realidade, que tanto queria conhecer. Um aglomerado de pessoas de pele morena, brasileiros, colombianos, peruanos, uma mistura de etnias que caracterizavam aquela cor de pele tão bonita.

Entre tantas pessoas, podíamos ver produtos no chão em bancas, na lama, enfim em canoas no rio. Entre a oferta e a procura, nós procurávamos desvendar aqueles mistérios, daquela realidade. Sentados ao chão aquele parecia um ambiente tão comum, para uma conversa informal, para um bate-papo animado. Assim como em muitos rostos via apenas a tristeza de mais um dia de trabalho sofrido.

O que mais me encantou além dos rostos das pessoas, foi a maneira como seus produtos eram ofertados no mercado, alguns colocados muito bem arrumadinhos entre coisas nem um pouco similares, outros jogados ou até mesmo pendurados a céu aberto.

Enfim mais um desejo realizado. Conheci umas das coisas que mais me fascina em diferentes lugares que vou: as feiras a céu aberto e em praça pública.


Mercado Público de Tabatinga, mas algumas imagens da Amazônia...

Nada com um envolvente livro...

O Domingo a noite traz consigo um certo ar de melancolia. Mas naquele Domingo algo a mais batia no arvoredo, denunciando o inverno que se aproximava. Longe ouvia cachorros acoando e na penumbra do meu quarto abria um livro de suspense.

Sempre fui apaixonada por narrativas envolventes, onde personagens tomam vida própria e passam na minha mente a fazer parte desse mundo. Normalmente me envolvo nas histórias de tal forma, que recrio os lugares, seus rostos. E no livro A Sangue frio não estava sendo diferente, mergulhei naquele universo de Holcomb, às 00: 47 de Domingo e passo a recriar no meu imaginário todo aquela ar de suspense que envolve a trama.

Concentrada na leitura, nem percebo mais a penumbra que envolve aquela noite fria, até que de repente em meio aquela leitura meio que real e literária ouço do lado do meu quarto barulhos estranhos. No começo era barulho de um filme de terror assistido pelos vizinhos, mas aos poucos começo a confundir aqueles sons com a atmosfera de suspense que perpassa no livro.

Creio que Capote jamais imaginaria tal efeito na vida de um leitor. Transgrido ao mundo real e penetro naquele mundo de perversidade e crime. Os ruídos do quarto vizinho se atenuam, agora ouço passos e até mesmo gritos. Por momentos cheguei a acreditar que estava em Holcomb, onde se passa a história de A Sangue Frio e imagino que posso ser a testemunha do assassinato que está prestes a acontecer. Mas ali do lado ou na família do Sr. Clutter. Chego ao ápice da imaginação e já sinto o vento bater mais forte como sinal de morte.

Mas, então batem na porta do meu quarto, pensei que fosse Willie-Jay que Dick o assassino sanguinário não encontrou, ou então o Sr. Clutter se arrastando depois de um tiro, ou meus vizinhos assustados com o filme que viam. Pensei muito antes de levantar da minha cama e atender a porta, pois para isso teria de fechar o livro e desviar minha atenção, e por nada nesse mundo queria me livrar daquela sensação de Ter penetrado tão intensamente na história. O fato é que fechei o livro e abri a porta..

Abri a porta da realidade e fechei a fantasia que somente o livro e suas histórias são capazes de trazer. Essa é a magia que me faz todos os dias dedicar alguns minutos para a leitura de uma boa literatura.

Noite de outono, vento frio, Trumam Capote e luz baixa, um ótimo final de Domingo.