A Lâmpada fluorescente desliza um zunido pelo silêncio da noite. É noite de sábado. Lá fora alguns pingos de chuva escondidos nas folhas do arvoredo se precipitam sobre o telhado de zinco da casa velha de madeira. Na casa há cinco quartos mal-arrumados. As luzes estão todas apagadas. Somente a cozinha permanece iluminada. Já é tarde mas a caneta fantasmagórica insiste em sustar palavras sobre o papel desbotado e abandonado sobre a mesa há anos. Tudo continua intacto na sua casa de bonecas, pensa Verônica, que repentinamente é despertada pelo barulho insano de um carro que atravessa a estrada de chão.
O susto a faz olhar para o teto da casa. Uma aranha negra parecida com as que aparecem em seus pesadelos desce do sobrado. Verônica se detém a imaginar quantas vidas desses seres ocultos se escondem por detrás das paredes ocas do sobrado. Seu medo é que elas caminhem sobre sua cama pequena e vigiem o sono profundo sugando a beleza de sua face desnuda de menina. Nem mesmo as velhas cobertas pesadas de lã podem deter a sagaz habilidade das aranhas venenosas daquele sobrado.
Verônica se lembra da primeira vez que foi picada por uma daquelas aranhas demoníacas que vivem ali. Foi durante a noite enquanto durmia no quarto escuro, do lado da cama da avó. Naquela noite tudo estava escuro na casa, até mesmo a cozinha permanecia em silêncio. Uma traiçoeira aranha portadora de tantas patas entrou embaixo de suas cobertas e sugou a vitalidade da sua coxa direita, ao lado de sua pinta de nascença. Mas só foi ao amanhecer que a menina sentiu a dor da picada invadindo os os poros e as veias. Foi então, tão de repente quanto o amanhecer daquele dia que Verônica viu nascer sobre sua pele um pequeno "cobreiro" que avançava constantemente sobre a perna. As mulheres da casa insistiam em levá-la até a vizinha benzedeira. Mas a menina e as aranhas satisfeitas com o estrago dormiam e acordavam dia após dia atentas ao desmanchar de uma bolha d'água e nascer de tantas outras.
Uma auréola cercada de pequenas bolhas d'água cresceu na perna de Verônica, no interior da ferida para completar a textura, um tom avermelhado fazia parte. A dor era substituída pelo coçar incensante, entre uma bolha e outra de água que estourava. A intimidade entre a menina e o cobreiro aumentavam a cada novo dia. Ela o levava a escola, mostrava aos colegas e assim o cobreirinho as poucos foi se tornando seu amigo confidente das visões que lhe perseguiam durante a noite.
Depois de dias apegada ao pequeno cobreiro, a menina num súbito despertar o viu esmorecer. Viu as bolhas d'água e a auréola vermelha perder as forças diante da destreza das rezas da benzedeira. Aos poucos se foram todos: as bolhas, o tom avermelhado, as margens circulares de seu novo amigo. Nem mesmo a coceira que satisfazia suas unhas dessarrumadas restou sobre a pele. O divino instante da contemplação ia se tornando a angústia de uma perda. A menina, então, começou a se dedicar a "arte do desapego", mas continuava sonhando com as aranhas que invadiam suas pesadas cobertas de lã e invadiam sua beleza, agora, jovial.
Verônica lembra do cobreiro como se fosse hoje, e então é desperta mais uma vez pelo barulho de borboletas noturnas que esvoaçam em torno da lâmpada fluorescente. Mas, das borboletas nascem lagartas, bichos cabeludos e esses também já tinham estado sobre sua pele. Mas essa é história para mais uma noite de insônia. Já é hora de durmir, adentrar no quarto das bonecas e dialogar silenciosamente com os monstros que caminham pelo sobrado. Tudo se fez silêncio e assim sempre o seria ali. Um silêncio ensurdecedor das lembranças de Verônica.
Um ato de contar, quem sabe absurdo, beirando a psicanálise. às vezes tenho medo do escrevo, muito mais do que desejo!!! Mas o papel desbotado e abandonado continua sobre e mesa da casa de bonecas de Verônica há anos!!!
O susto a faz olhar para o teto da casa. Uma aranha negra parecida com as que aparecem em seus pesadelos desce do sobrado. Verônica se detém a imaginar quantas vidas desses seres ocultos se escondem por detrás das paredes ocas do sobrado. Seu medo é que elas caminhem sobre sua cama pequena e vigiem o sono profundo sugando a beleza de sua face desnuda de menina. Nem mesmo as velhas cobertas pesadas de lã podem deter a sagaz habilidade das aranhas venenosas daquele sobrado.
Verônica se lembra da primeira vez que foi picada por uma daquelas aranhas demoníacas que vivem ali. Foi durante a noite enquanto durmia no quarto escuro, do lado da cama da avó. Naquela noite tudo estava escuro na casa, até mesmo a cozinha permanecia em silêncio. Uma traiçoeira aranha portadora de tantas patas entrou embaixo de suas cobertas e sugou a vitalidade da sua coxa direita, ao lado de sua pinta de nascença. Mas só foi ao amanhecer que a menina sentiu a dor da picada invadindo os os poros e as veias. Foi então, tão de repente quanto o amanhecer daquele dia que Verônica viu nascer sobre sua pele um pequeno "cobreiro" que avançava constantemente sobre a perna. As mulheres da casa insistiam em levá-la até a vizinha benzedeira. Mas a menina e as aranhas satisfeitas com o estrago dormiam e acordavam dia após dia atentas ao desmanchar de uma bolha d'água e nascer de tantas outras.
Uma auréola cercada de pequenas bolhas d'água cresceu na perna de Verônica, no interior da ferida para completar a textura, um tom avermelhado fazia parte. A dor era substituída pelo coçar incensante, entre uma bolha e outra de água que estourava. A intimidade entre a menina e o cobreiro aumentavam a cada novo dia. Ela o levava a escola, mostrava aos colegas e assim o cobreirinho as poucos foi se tornando seu amigo confidente das visões que lhe perseguiam durante a noite.
Depois de dias apegada ao pequeno cobreiro, a menina num súbito despertar o viu esmorecer. Viu as bolhas d'água e a auréola vermelha perder as forças diante da destreza das rezas da benzedeira. Aos poucos se foram todos: as bolhas, o tom avermelhado, as margens circulares de seu novo amigo. Nem mesmo a coceira que satisfazia suas unhas dessarrumadas restou sobre a pele. O divino instante da contemplação ia se tornando a angústia de uma perda. A menina, então, começou a se dedicar a "arte do desapego", mas continuava sonhando com as aranhas que invadiam suas pesadas cobertas de lã e invadiam sua beleza, agora, jovial.
Verônica lembra do cobreiro como se fosse hoje, e então é desperta mais uma vez pelo barulho de borboletas noturnas que esvoaçam em torno da lâmpada fluorescente. Mas, das borboletas nascem lagartas, bichos cabeludos e esses também já tinham estado sobre sua pele. Mas essa é história para mais uma noite de insônia. Já é hora de durmir, adentrar no quarto das bonecas e dialogar silenciosamente com os monstros que caminham pelo sobrado. Tudo se fez silêncio e assim sempre o seria ali. Um silêncio ensurdecedor das lembranças de Verônica.
Um ato de contar, quem sabe absurdo, beirando a psicanálise. às vezes tenho medo do escrevo, muito mais do que desejo!!! Mas o papel desbotado e abandonado continua sobre e mesa da casa de bonecas de Verônica há anos!!!
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