Comprei um caderno de desenho, lápis 6B, um apontador, também algumas canetas para rabiscar versos. E hoje, ao completar 24 anos, recomecei a desenhar. Queria desenhar a vida sem dor, sem cor, sem tristeza, sem alegria, sem diferença, sem igualdade. Queria a vida neutra, estável...enfim, apenas vida sem ter como definí-la. Entendem?
Mas aí eu pensei que teria que esquecer de todas as referências dos meus 24 anos, por que neles nenhum dos sentimentos, situações acima estiveram ausente:
E eu Francieli Rebelatto, uma eterna virginiana dramática e exagerada digo que nos meus 24 anos:
Adoro espinafre frito a milanesa. Aprendi a tomar milk shake do Mc'Donalds. Adoro comida chinesa, gaúcha, um bom mate, uma cerveja gelada. Tequila em breves momentos, vinho me deixa ruborizada. Gosto de coisas geladas, mas também não descarto coisas quentes e amargas.
Contradigo-me sim, meu caro amigo, por que eu vivo intensamente a vida, para temer ter novos discursos todos os dias. Hoje sei o que é rock'roll, mas ainda não conheço bem o Jazz. Hoje eu começo a aprender a jogar truco, mas ainda não sei jogar perfeitamente petecas, quando menos sei fazer tricô e crochê como queria minha mãe. Hoje eu choro e choraria quantas vezes mais fosse preciso. Choro por que sofro, amo, erro, acerto, me emociono, sinto saudades, reencontro motivos para chorar, pessoas para abraçar e momentos para relembrar.
Hoje eu conheço a cidade grande: Porto Alegre, Rio de Janeiro, Fortaleza, Manaus, Florianópolis, Londrina, Brasília, a Amazônia. Conheço lugares além das Fronteiras – Colômbia, Peru, Argentina, Uruguai e sou apaixonada pelos limites fronteiriços e seus imbricamentos culturais. Mas eu amo cidade pequena. Aquela que fica perto de algum lugar, com cheiro de comida de fogão a lenha, com terra molhada, com gente falando de outras gentes. Gosto de muito movimento e do pouco movimento. Gosto de cidades...Gosto também do sabor doce do campo.
Hoje eu ainda não aprendi a ter um relacionamento amoroso completamente saudável e acredito que levarei mais 24 anos para ainda não ter certeza de como é isso. Por isso começarei a partir de amanhã usar filtro solar todos os dias (ta aí uma sugestão de presente). Mas eu lembro de perfumes (opa, outro presente), eu lembro dos frascos, lembro do teor dos abraços, e tenho certeza que alguns nunca irei esquecer. Já tive paixões calmas, paixões fugidias. Breves beijos na madrugada e uma noite inteira de amor não interrompido. Já encontrei o homem da minha vida, e por mim hoje eu daria meio mundo para estar com ele. Nestes relacionamentos, eu amei, me entreguei, escrevi poesias, contos, versos, palavras bobas. Já imaginei viagens para o outro lado do mundo, fotografias que seriam recortadas em porta-retratos de estante. Pensei nos presentes de aniversário, de final de ano, de páscoa, de dia dos pais, de dia dos namorados. Eu adoro datas comemorativas e adoro dar e ganhar presentes.
Nos meus 24 anos eu errei e como errei. Erros de português nos textos da faculdade, contas de matemática do 2° grau. Mas já errei com pessoas, com atitudes, com julgamentos, já errei com precipitações, por acreditar que poderia ter o mundo como eu quisesse, assim tão simples. Já machuquei outras pessoas por ser egoísta, por ser descrente, quem sabe por não saber como amar, ou como amar o outro da forma como ele precisa. Porém, já acertei muito também, fui motivo de orgulho para meus pais, para meus amigos, para meus chefes. Já dei gargalhadas de manhã, já fui responsável de tarde e já fiz músicas de noites.
Já fotografei coisas sensacionais e já errei a medida da entrada de luz pela lente. Já escrevi poesias coerentes. Em outras situações apenas divaguei pensamentos absurdos. Já quis ser freira. Escrevi cartas para as irmãs fransciscanas. Já fui catequista na minha comunidade e já fui presidente de um Grupo de Jovens. Já fui à festa do fetiche, fiz strip e visitei casas noturnas com luzes vermelhas. E conheço espelho no teto também.
Já andei de bicicleta, de avião, de carro e de nuvens de algodão. Mas quebrei o pé num salto alto. 3 ossos de uma vez, numa sexta-feira à noite. Tentei andar de patins no Parque Itaimbé, mas foi depois de uma festa no velho Aldeia Bar. Ops, levei vários tombos, aquele dia e quantos mais dias que os tombos existiram. Tenho marcas nos joelhos, quando pulava corda no meio da estrada do chão.
Eu escrevi textos objetivos: de TV, de jornal. Escrevi crônicas e textos sem nexo (como este) mas me detenho mais nos discursos ainda em construção. A sei lá, gosto de ler o mundo com meus olhos verdes e úmidos sem me interessar muito com as interpretações. Já fiz uma faculdade. Valeu a pena. Comecei outra e também valeu muito a pena. Hoje quero mestrado, doutorado, mercado de trabalho. No fundo mesmo quero ser Editora de Fotografia da National Geografic Diário de Santa Maria (eheheh). Encarei a vida em alguns momentos com romantismo. Em outros momentos fui total descaso a porra do mundo, da vida, das pessoas.
Sou romântica, vislumbrada, visionária. Sofro por antecipação e sofro sempre sem distinção. Mas sou toda gargalhadas e entusiasmos na madrugada. Adoro frio: pinhão na chapa, vinho, bafo na nuca e mais um pouco de livros em frente a lareira. Adoro calor: verão, praia, passos na areia e passeios na mata atlântica.
Ia esquecendo dos esportes: já joguei vôlei, futebol, futsal, lutei nin-jutsu, capoeira e judô. Mas gosto mesmo é de esportes radicais, saltar do alto de um moro, corrida do saco, nado em riachos com bastante pedra e limo. E viajar para o outro lado do rio com um cipó por estourar...
Bom, nos meus 24 anos eu sou uma pessoa: Inteligente. Versátil. Apaixonada. Carente. Briguenta. Educada. Insegura. Super segura. Instável. Às vezes mulherzinha. Às vezes mãezona - foda-se o mundo pelos filhos. Concreta. De vidro. Fotógrafa. Poeta. Bonita. Com rugas e celulite. Viajante. Dona – de – casa. Colega. Pé-no-saco. Facera. A mais triste. Sou um erro. Quem sabe ainda posso ser um acerto. Já fui o amor da vida de alguém. Quem sabe um dia ainda posso ser. Enfim, vamos acabar com essa palhaçada sou perfeita nos meus 24 anos. Mas quanta imperfeição em todo este discurso...Eu quero rir, só isso, ao menos hoje, eu preciso rir, apenas isso...E depois me mandem um táxi direto para a estação lunar, por que sou uma humana normal, normal que transpira insanidade...