O vinho de leve traz um torpor inquietante aos poros. Livros, poesias, correntes no calcanhar das músicas do Zé. Saudades chegam devagar com o cheiro do vinho que entorpece. Sem confetes, sem carnaval, sem biografias....e ouço o som que me ensinaste um dia a apreciar. Majestosamente o vinho reflete as horas que de badalada em badalafa escoam em mim, nas entranhas machucadas, nas pálpebras dos olhos úmidos, porém tão vazios nesta noite. Noite doentia, de vontade desesperada de escrever, os devaneios banham a incompreesão de um humano atônito..
Contemplo os instantes, de gole em gole, de sangue em sangue....Um vale profundo, uma beira de mar, a água vem - vai. Os meus pensamentos deixam o mundo dos vivos, se alastram por luz frígida na qual vomito saudade. A ferida caleja no minúsculo músculo da face, na carne viva da alma em chamas. Mas, é o vinho este mundado, é o seu reflexo nas rugas de minhas mãos...Tudo assim, tão devagar, tudo assim a latejar....Regojito, vomito, papiros. Torturas e o nervo se contrai, com precisão. E no delírio, meus medos rompem o silêncio, a aflição, as veias, as palavras, a demência. Tudo que é luz, se torna luz, mas é o vinho que me tem em alucinações. Nada mais é pálido e viscoso, tu tens luz, eu tenho reboliço em mim....
E grito para então me calar, diante de ti, da tua imagem, minha imagem. Tua face na saudade ininterrupta de tua ruga, tua marca, teu cheiro. Eram os trovões, todo o céu, todo o vinho e eu queria a fenda, a prece do poeta para um dia nas cordas e lamentos deixar de ser saudade....Cavalgo, deliro...me ensinaste a não te esquecer....Ninguém me compreende quando digo que sou visionário..para o mundo ireis me obrigar a lutar na loucura do mundo...