martedì, gennaio 03, 2006

Toque ou desatino...

Era assim, todas as manhãs Catarina descia aquelas escadas do apartamento no centro de Santa Maria. Sabia que a cidade e seu tempo aqui já haviam saturado seu bom-humor. Estava cansada daquelas escadas, daquelas pessoas, daquele centro e daqueles telefonemas.

Mas hoje ela descia as escadas feliz, falando ao celular com seu novo moço dos olhos. Sim, acreditava ter encontrado uma pessoal ideal para superar a chatice dessa cidade. Alto, pele morena, mulato, sensual, discreto e inteligente, a perfeição e o oposto do que sempre teve. Falava animadamente, marcara um encontro para mais tarde com Carlos.

Como sempre desceu todas as escadas, cumprimentou seu José, que lhe respondeu com um animado:
- Bom dia, menina...Linda como o sol que brilha lá fora.

Sim, ela não tinha dúvida estava radiante como o dia lá fora que acalentava as ruas de Santa Maria. Saiu do prédio e depressa chega na rua Floriano Peixoto, percebe que o movimento era grande, mas nem isso tiraria a paz desse dia. Caminhara apressadamente para atravessar a rua, como era seu costume. Mas diferentemente de todos os dias, não teve dúvida o avistara entre a multidão. Pele clara, alto, sensual, indiscreto e nem sempre inteligente quanto gostaria.

Catarina sentiu seu corpo tremer e sua boca secar, seu coração disparou como a muito não sentia a não ser quando recebia aquelas tão temidas ligações, mas agora ele estava ali, vindo em sua direção. Tentou desviar o olhar, se esconder entre as pessoas, mas tudo isso era em vão, pois ele já a avistara e como sempre abriu aquele sorriso. Em outros tempos julgou o sorriso, mais lindo e sincero, mas agora sabia que por trás daquele encanto existia o sorriso mais sarcástico que já conhecera. Ela viu respingar do olhar dele uma maldade sem limites e ao se aproximar não teve tempo de temer mais por nenhum segundo.

Ele agarrou fortemente seus braços, empurrou contra aquela parede e ali mesmo em meio a tantas inocentes pessoas lhe grudou o beijo mais longo, profundo e sem sentido que Catarina poderia um dia receber. Ela já estava perdida, sem forças para resistir, não viu mais nada.

Catarina só viu o calçadão vazio, todos tinham ido embora, pensou que fosse pela chuva torrencial que caia. Sem sentido, correu por aquele vazio, tirando de suas entranhas o grito mais culpado, angustiado que por tanto tempo guardara dentro de si. Correu por toda aquela rua sozinha e sem forças caiu ao chão, tão profundo que não encontrara abrigo.

De repente ela acorda e percebe que já era noite, Carlos estava ali ao seu lado, corpo nu, pele morena, uma perfeição para seus olhos cheios de lágrimas. Catarina olha para o lado e vê que seu celular repousa ao lado do de Carlos, então fica mais calma e adormece mais uma vez nos braços perfeitos de pele morena. Pensara que tudo não passara de um sonho, ou melhor, pesadelo.

Mal percebe ela que no seu celular permanecem várias chamadas não atendidas. Seria ele? Sim, pele clara, olhos perfeitos! Permanecia ele na janela do prédio em frente esperando ser atendido e apreciando a chuva torrencial que caia lá fora, sobre a triste e fria Santa Maria.

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