Coincidentemente recebi hoje pelo e-mail, um texto que falava da situação desconfortável de professores na redação do Jornal Nacional. Foi hoje, também, que acabei de ler uma crônica do Frei Betto com o título de Telespectador, e também não faz muito que já tinha chegado a algumas conclusões sobre a televisão e sobre o seu jornalismo. Depois de tantas coincidências acredito ser válidas algumas considerações televisiva, ou melhor, algumas desconsiderações, pois se trata de uma crítica.
Parece um cenário perfeito para grandes discussões e um agitado dia para se pensar no Jornal Nacional, penso que foi esse o pensamento dos professores da USP, quando entraram na redação do Jornal Nacional. Confesso que também acreditava nisso. Mas como sempre, o jornalismo tem muitas surpresas, é bom estarmos preparado para mais essa. Certamente todos aqueles professores, assim como eu, esperavam de Bonner muitas discussões, decisões e coerência, ao menos é o que seu perfil aparenta sentado atrás do balcão do Jornal (nesse momento inclusive ouço sua voz). Mas não, o pouco que saiu de sua boca segundo descrições de Laurindo Lalo Leal Filho, foi como as pesquisas que indicavam o perfil do telespectador. Sim, amigos, o telespectador do Jornal Nacional é um Homer Simpson, preguiçoso e lento. Essas foram às palavras, usadas pelo nosso ilustre apresentador. E essa é a dura realidade do Jornal Nacional, aliás, esse é o pensamento de nossa âncora, que sem muitos questionamentos e diálogos, escolhe as notícias mais acessíveis e apelativas, sem ao menos discutir com as caras constrangidas de jornalistas e professores ao seu redor.
Enquanto Bonner superficialmente trata do Jornal mais importante do Brasil, Frei Betto sutilmente, ou nem tanto, critica em sua crônica a postura do telespectador...
Viriato depois de ter uma vida de pecado é condenado a passar o resto de sua eternidade no inferno, lá o diabo lhe oferece um quarto, em que ele tem direito a uma cadeira e uma televisão Num primeiro momento Viriato nem acreditou que esse seria seu castigo, a televisão oferecia uma programação muito variada. Mas depois dos primeiros dias de desfrute percebeu que a tv nunca podia ser desligada e que seu volume não poderia ser alterado. Depois de três meses Viriato percebeu que sua pena não era tão leve quanto imaginava, a TV não era uma mera transmissora de atrativos, era um ente real que pensava por ele, sonhava por ele, raciocinava por ele, seqüestrando-lhe a identidade.
Viriato, então, percebeu que um vazio instalara-se no âmago do seu ser. A programação saturava-o. Embora variada, obedecia aos mesmos modelos repetitivos: o sorriso saúde-e-afeição dos apresentadores, a beleza esguia das mulheres, a ridicularização dos homossexuais e gordos, a apologia ao adultério, a comicidade derivada da desgraça alheia, a prosperidade como fruto da sorte, a espetacularização da notícia, a nova embalagem de velhas piadas, velhas histórias e velhas imagens. Viriato entendeu qual é o significado de eternidade: a televisão suprimia o tempo, já não havia passado, presente e futuro e estabelecia a soberania do espaço, invadindo o espaço subjetivo do telespectador, asfixiado por aquela profusão de signos que lhe roubavam a palavra e sonegavam o silêncio, dilacerando-o interiormente.
O demônio modernizara-se conclui Viriato e até no inferno telespectadores são absorvidos por esse veículo. Mas aí me atrevo a perguntar: Será que precisamos esperar até chegar ao inferno para nos darmos conta dessa superficialidade da televisão??. Bom, sei que eu há muito tempo deixei de ser Homer Simpson, e aqui mesmo na terra (que por vezes parece o inferno) me dei conta do que Viriato fala. Não tenho nada contra imagens, aliás, sou fissurada e ainda vou trabalhar com documentário, cinema e fotografia, mas nunca consegui entender o fascínio que a TV desperta nos “Homers da vida”. Então passei a fazer parte dela, e minha revolta cresceu ainda mais, por que agora sim, conhecia um pouco da realidade e percebia o quanto esse trabalho do dia-a-dia da TV é mesquinho, superficial, diria até que às vezes o Jornalismo e a televisão não passam de uma cultura inútil.
Pobre dos Homer Sipsons, dos Viriatos e de mim. Homer Sipsom, por que é subordinado as ordens de Willian Bonner, os Viriatos por que demoram até o inferno para perceber o que a televisão representa de verdade, e eu por que não sei se gostaria de conhecer essa realidade. De repente seja melhor continuar como uma vã telespectadora sentada em meu sofá ocasionalmente, ou então, deixar pra depois me acertar com o demo qual será meu castigo. Mas sinceramente se tiver que passar o resto da eternidade assistindo TV eu me jogo do inferno, mesmo sabendo que posso cair direto no Projac.
venerdì, dicembre 09, 2005
Do Projac direto para o Inferno...
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