sabato, dicembre 17, 2005

Tudo é permitido com as palavras, mas como controlar as personagens??

Érico Veríssimo 5x aos meus olhos e ouvidos e a minha inventividade copiosa de obras extremamente completas, mas que abrem caminhos para vieses que minhas mãos e o cansaço do prosaísmo e mesquinharia da minha vida permitem reconstituir.

E tu te contentas em fechar os olhos e fingir que tudo isso é absolutamente perfeito?

Pois ela descia formosa daquelas escadas, tão esplendidas como a noite que se aproxima. E ele? Percebe que não lembra de nada, aquela rua era longínqua e taciturna, mesmo sendo de Porto alegre, e dele já não sabia mais nada. Daquela formosura que descia as escadas só restou a dignidade dos lírios que vestiam sua alma, pois foi daquela tão alto andar do Prédio Império que consideravas tudo perdido. Daquela janela ele podia ver um mundo que inspirava suas obras. Sim sutilmente suas personagens passavam por ali, deixando no ar o sabor amargo e nebuloso de um final incerto. E ele precisava de um prefácio.

Ela não tinha dúvidas de que os lírios eram seu retrato, pois nem mesmo Salomão conseguia vestir-se com tal magnitude, mas o corredor e aquela janela a inspiravam bem mais. Suas tristezas e angústias por estar desacostumada a esse novo mundo a instigavam a buscar aquele caminho. Ele estava certo de que aquela noite estava apenas começando e de que aquele caminho não lhe era conhecido. Já não lembrava o que fazias, mas a sua carteira cheia de dinheiro afugentava a triste angústia que cercava seu passado de pobreza, e assim seu romance com o caminho cruzado estava garantido.

Ela sempre fora bondosa e desde daquele dia descendo as escadas do baile até o encontro à janela nada havia mudado, sempre praticara o bem e desejava ver os lírios cobrindo as ruas de Porto Alegre e também o corpo de seu filho que permanecia intacto já sem vida, assim como o seu também seria. Ele sentava a sua mesa e sem coragem não abria aquela carta, olhava sempre para aquela janela como quem busca o desconhecido num mundo invisível. E ali eles sempre estavam, com suas roupas liriosas, suas festas de gala, com sua miséria incontestada e com o cheiro de esperma e de morte ao vento. Mas o fato é que ele não lembrava e aquela não seria sua última noite.

Ela já não lembrava mais do lírio dos campos, nem conhecia os enganos do marido, ela bebia compulsivamente, e trabalhava na loja de brinquedos. Mas cansada de tanta mesquinharia da vida, toma atitudes quem nem mesmo aquela doença permitiriam, morrer sem que antes ele lembrasse quem seria. Mas ele tinha certeza que não a matara. Dos bares, das prostitutas, de seus muitos livros e dê sua ambição lembrava, mas não lembrava como naquela rua parara e em que noite era aquela não que acabava.

Ela mais uma vez não teve dúvidas, sua formosura era tanta que até mesmo a rua se enfeitaria com seu corpo caído no chão. Seus olhos verdes, azuis, castanhos brilhariam com o raiar de um novo dia, afinal a noite já se findava. Primeiro o sexo, depois a angústia, depois o sapato e lá se fora enfeitar mais que um lírio aquela rua estranha de Porto Alegre. Por mais que ele não lembrasse sabia que a tinha encontrado, tomou, transou, cuspiu, escreveu, criou...Afinal ele precisava de um prefácio e na sua cabeça nada mais lembrava do que a cor de seu gato, o cheiro daquela pele e o teor daquela bebida.

Ela encontrou naquela rua o repouso de seu pesar e entre lírios adormeceu pausadamente sob o olhar daquela criança. E ele não tinha dúvidas encontrara o prefácio de seu livro. Chegara tarde ele sabia, mas o remédio mais sensato era deixar seus personagens soltos, naquela longínqua rua e distantes daquela janela.

Pois eu não me contento e sei que nada disso é perfeito, por isso dou liberdade as minhas personagens e mais uma vez largo essas palavras ao vento. Ele e ela agora são os meus observadores da estrela de sírio e constatam novas histórias aqui na terra. Mas irei sem pesar nesse momento tomar um banho de silêncio, para limpar a alma das palavras. Assim o fez Érico Veríssimo, assim fazemos nós. Ele, ela e eu.
Vou tentar esboçar uma explicação lógica para essas palavras, já que seu sentido é desprovido de logicidade. Nessas palavras sintetizo os diversos personagens de Érico Veríssimo...Olhai os lírios do Campo, O Resto é Silêncio, Noite, Caminhos CRuzados...5x Érico e mais uma vez um delírio...Pois essa vida é monótona e e essas palavras são escravas de um sábado à noite mesquinho. Mas outras noites virão. E nós...Ele, ela e eu somos donos da noite. Isso tudo é um absurdo, mas um personagem nesse momento me indaga, perguntando o que seria de nossas vidas: a minha e a dele sem absurdos?. Dei-lhe liberdade para pensar, agora me resta ser um Girassol dos Oceanos...

1 commento:

Vanessa Corrêa ha detto...

também me impressionei
com o girassol dos oceanos,
nao sei o nome correto pela qual
a lingua portuguesa classifica
essa variacao, mas enfim..
sem duvida Noite, é uma das melhoes obras do Érico.

me pus a roubar apenas o nome do bar, para a novela em que comecei a escrever.. assim digitei no google, para saber se alguem mais faria algo parecido... e ai acho sua publicacao.. hahaha

abracos!