Numa segunda-feira à noite quando não se tem nada para fazer, aparentemente, ou então se quer esquecer muitas coisas ,oportunidades nos aparecem para vivermos mais uma segunda maluca. E como diz uma sábia amiga não podemos fugir do destino.
A muito tempo não ia no Absinto Hall, por vários motivos. Primeiro por que meus estilos de festa mudaram muito e lá não é um lugar que mais curto, segundo por falta de grana mesmo e terceiro por que nunca curti o público daquele local.
Mas levando em consideração o convite de um velho amigo, responsável pelas mudanças no ambiente do local, fui até lá apreciar seu trabalho. Como sempre um trabalho perfeito, realmente o ambiente estava muito adequado para uma grande noite. Mas bastou por os pés no Absinto para sentir que aquela seria mais uma noite de filosofias e análises: de personagens, de ritmos , de comportamentos e principalmente de como poderia ficar uma noite toda ali sem me sentir "um peixe fora da água".
Elas dançavam em roda, com expressões sérias não se olhavam, apenas passavam de mão em mão a cerveja que bebiam, mas de seus rostos nenhum sorriso aparecia e de suas bocas nenhuma palavra se ouvia. Quando caminhavam sempre estavam de mãos dadas, não sei se era para não se perder ou se a prova da grande amizade, até que um moço as abordasse. Vestiam minissaias, mas quando falo em mini, realmente estava certa minha avó, para baixo do umbigo e acima da virilha, umas mais ousadas usavam shorts minúsculos e sem falar nos decotes. Seus rostos possuíam uma maquiagem um tanto artificial, aliás, de natural muito pouco se via, com certeza um frasco de leite de colônia seria insuficiente. Os cabelos escorridos, não disfarçavam a chapinha muito quente que os deixara daquele jeito e seu loiros resplandeciam a tinta que um dia acobertou os castanhos, acizentados, ou até mesmo preto.
Enquanto isso, no meio da pista ele dançava sozinho, enlouquecidamente, como em tantas outras festas. Parecia ser a pessoa mais feliz e autêntica do lugar, pois não escondia nenhum pouco sua loucura e nem mesmo sua vontade de ser feliz. Enquanto a maioria de longe ria de sua audácia, eu e a Michele analisávamos tudo aquilo que nos rodeava. E aos poucos nos convencíamos de que aquela não foi a melhor escolha para uma segunda à noite. Realmente maluca.
Para amenizar essa situação marcávamos em nossa comanda todos os tipos de bebida, uma cerveja, duas, um wisky, dois, caipirinha (aliás muito doce, enchem de açúcar e o que menos colocam é vodka, porém reivindicamos nosso direito e calibramos a Segunda dose com muito mais vodka). E assim a noite foi passando a banda sobe ao palco e mais absurdos me inspiram para escrever esse texto, já que a muito não tenho escrito nada. Uma fase realmente sem inspiração. Mas a banda sobe ao palco e com ela as mão sobem, os peitos sobem, as saias sobem e elas que antes dançavam em roda agora, também sobem ao palco para demonstrar seus "dotes artísticos". Coxas grossas, expressões de "vem que te quero", peitos a mostra e muito rebolado. Esfrega de cá, esfrega de lá e as coisas começam a esquentar.
Antes disso, esqueci de falar sobre eles. Cabelo alinhado e com muito gel, rostos bem lisinhos, barba bem feita, roupa impecavelmente arrumada, parecem uns bonecos arrumados pelas mães. E de suas bocas saem sorrisos maliciosos, que olham para as coxas, para o rebolado, para os peitos, porém quem poderá apreciar um bonito olhar naquele escuro, naquele jogo enlouquecido de luzes.
Dessa noite muitas coisas boas e ruins carrego comigo. De boas o encontro com amigos especiais, com máquinas fotográficas, com um ritmo de música que a muito tempo curti. De ruim percebo a superficialidade das pessoas, de como em outros tempos pude me fascinar com coisas que hoje me deixam perplexas. Mas o que mais me lembro dessa noite são as cantadas totalmente sem sentido de alguns moços engomados que não se dão conta de nossa "passada inocência". Um deles se aproximou e pediu desculpa se estava incomodando (menos 2 pontos), depois me disse ao pé do ouvido (menos 2 pontos, odeio muita intimidade) que eu era tão bonita quando meu olhar. Não duvido da minha beleza, ao contrário me acho sim tão bonita quanto meu olhar, aliás acredito muito no poder do meu olhar, senão não seria bruxa, mas o que me deixou indignada é que minutos depois de ouvir toda a descrição da vida dele (aquele velho papo, o que tu faz, de onde és??) o moço se atreve a perguntar qual a cor dos meus olhos. Pois é, e ele me achou tão bonita quanto os olhos que nem tinha identificado a cor. Descartado imediatamente. Essa é uma das formas muito criativas que os moços engomados nos abordaram, alguns puxavam pelo cabelo e resmungavam palavras insólitas, outros chegavam delicadamente, mas com uma palavra proclamada bastava para ser descartado.
Depois de muitos dias sem escrever nada por aqui, pois tem muito material sendo preparado, volto a brincar com as palavras e com situações que norteiam meus dias, ou no caso minha noite. Por vezes penso que estou velha, mas depois percebo que na verdade nada passa de um reconhecimento do que para mim é bom e ruim.
Como diria a co-autora desse texto, que dividiu comigo muitas teorias no Absinto, "A idéia do lugar é boa, pena que as cabeças que o preenchem são vazias".. Afinal não é o lugar, nem a decoração, nem mesmo a caipinha doce que me inspiram palavras, mas sim é os personagens desse espetáculos, são as barbáries e superficialidade humana que me apavora e faz perceber o quanto banalizamos nossa vida.
OBS: Também uso minissaia, decotes, um pouco de maquiagem, ando de mão dada, e rio de coisas que possam parecer ridículas. Até mesmo em palcos já subi, só não pintei meu cabelo e minhas cantadas são mais originais, creio. Porém percebo e analiso. Bom ou ruim, vejo que não preciso mais fazer certas coisas.