Sexta-feira à noite, sim dia, aliás, noite de ir ao DCE, e eu? Mais uma vez me recolho num quarto frio, penso em alguns filmes que posso assistir e aproveito minha solidão para me inspirar. Não entendo, mas ultimamente ando mais romântica do que o normal, segundo amigos, meu jeito “Fran de ser” permite isso, na verdade eu que não me permitia, até então. Escolho assistir O carteiro e o Poeta, por que aí está três coisas que fazem meu olho brilhar ainda mais nessa vida: cinema, literatura e Pablo Neruda, e o comunismo? Não, esse prefiro não comentar.
Não é a primeira vez que assisto ao filme, mas o momento pela qual passo pela minha vida me permite mais uma vez assistí-lo, pois ando muito inspirada e nada como ouvir palavras belas de um mestre, mesmo que na ficção, para tentar encontrar o caminho certo das rimas e das metáforas. Mas o que são metáforas? (Mário Ruopollo) Metáforas são feitas constantemente e creio que aqui não vem ao caso explicar. Só sei que brilha em ti a esmeralda mais perfeita (seus olhos verdes, quem sabe?)
Sei que o filme traz tantas lições de vida que fiquei extasiada como da primeira vez que o assisti, pois vivemos entre a busca do amor e da aceitação, não é mesmo? Bom, mas não é minha intenção me deter nos méritos do amor no filme, mas sim na descoberta da poesia como algo renovador e engrandecedor da personalidade humana (isso, sim foi profundo).
Mas como alguém se torna poeta? (Mário Ruopollo). Tente caminhar pela costa até a baía lentamente e olhar a sua volta (Pablo Neruda) Elas virão até mim, às metáforas? (Mário Ruopollo) Certamente.(Pablo Neruda). Sim, isso que é uma resposta digna de um grande poeta, pois não existe nenhuma fórmula mágica para se tornar um poeta, mas sim existe possibilidade de aos poucos irmos ensinando nossa sensibilidade a se dar conta do que pode se tornar poesia. E certamente tudo pode ser poesia, afinal como diz no filme, “por que um poeta não poderia pensar enquanto descasca cebola?” E convenhamos descascar cebola é algo extremamente inspirador, assim como caminhar lentamente e perceber as coisas ao nosso redor, assim como correr sem sentido para qualquer lugar. Assim como ir ao cinema, assim como deitar numa cama gelada e olhar para o teto vazio.
Nossa! Creio que nunca escrevi tantos absurdos e obviedades, mas é por aí que começamos a deixar nascer nosso poeta, quando duvidamos das obviedades e aproveitamos os absurdos. É como juntar a história do Príncipe encantado, que chega com um cavalo branco, uma caixa de chocolate, e o sapatinho da Cinderela, mas então descobre que vai ter que subir pelas tranças da Rapunzel, pois nada é fácil, nem para um príncipe. E quando chegar até a janela da princesa vê que ela está cercada de 7 anões. De fato parece absurdo, mas a poesia te permite recriar a vida de uma forma absurda sim, porém digna de aplauso e de lágrimas nos olhos.
Estou cansado de ser homem (Pablo Neruda) às vezes também me sinto assim (Mário Ruopollo, Francieli Rebelatto). Como poderia me explicar isso, Grande poeta? Quando você explica a poesia ela se torna banal, melhor do que qualquer explicação é o sentimento que o poeta pode revelar a uma alma suficientemente aberta para entendê-la. (Pablo Neruda). Creio que posso me abster de maiores explicações, ou então de opiniões pessoais, por que aí estão sábias palavras e não merecem que eu as conclua, fiquem a vontade leitores e julgam como quiser, eu achei perfeito. Para suprir minha falta de conclusão, desnecessária é certo, lá vai alguns trechos de poesia...
“ O mar...ele acaricia, beija, molha
e bate no peito repetindo seu próprio nome”
Nossa! As palavras iam para frente e para traz com o mar...Esse é o ritmo, como um barco balançando no sentido das palavras ( Mário Ruopollo e sua primeira metáfora.). A riqueza primordial da poesia, despertar no leitor, o ritmo condizente com suas palavras, a sensação condizente com o que o leitor precisa para a sua vida. Pois a poesia não é de quem a escreveu, mais sim de quem a precisa. Não acham? Democrático, sim, porém, extremamente real? Quantas vezes precisamos nos apegar a poesias para entendermos nossa própria vida, ou para termos coragem de continuar nela, ou então mudá-la? Quem nunca precisou que atire a primeira pedra. E quanto atirar perceba que estará sujeito a fazer tua primeira metáfora.
Mas se eu fizer metáforas sem intenção? A intenção não é importante, pois as imagens nascem espontaneamente (Pablo Neruda). Quer dizer que o mundo inteiro é uma metáfora para outra coisa? Certamente. Mas o poeta precisa conhecer seu objeto de inspiração, ou ao menos ter uma noção básica para que na sua mente comece e se formar suposições daquilo que lhe inspira, pois não temos como escrever sobre algo que nosso cérebro não tem em seu repertório (teoria da comunicação/semiótica, enfim).
Enfim, até a mais sublime das idéias pode se tornar boba quando dita muitas vezes, por isso, chega de tentar aglomerar palavras sobre poetas, se na verdade temos é que viver como poetas. Bom, ou ruim? Bom, por que temos a sensibilidade de ver mais facilmente as coisas e de encontrar saídas para resolvermos nossos problemas, mesmo que isso fique no papel. Ruim, por que percebemos demais a dor alheia e por que sofremos demais com nossa própria dor. Mas se você acredita que vale a pena, quando a vida for motivo de poema, então não desista de encontrar o poeta que mora dentro de si, nem que ele nunca venha escrever, mas que ele tenha a sensibilidade de fazer com o mundo seja mais justo e agradável.
Estou cansado de ser homem, Mas por que se até mesmo o mar, acaricia, beija e molha? Poesias e metáforas lhes peço que nunca saiam da minha vida. E agora vou andar lentamente da “costa até a baía” e observar ao meu redor, “da janela do quarto até a sala” e observar ao meu redor, “do chuveiro até o espelho” e observar o poeta que está ali refletido... E se ele ainda não nasceu, então estejamos preparados para o parto.
Yo vine aquí para cantar
y para que cantes conmigo.
Bom, aí vai três dicas para esse final de semana cinzento. Primeiro assitir o filme o Carteiro e o Poeta, uma obra do cinema, para rir, aprender e chorar, é óbvio. Segundo leiam o livro Um chute na rotina, de Von Oech, é bom para nos darmos conta dos papéis que devemos exercer em nossa vida e de que como as coisas parecem menos óbvias do que as julgamos. Terceiro, ler é claro, Pablo Neruda, tanto suas poesias, quanto ler o livro Eu confesso que vivi, que é sua autobigrafia de um dos maiores poetas latino-americanos, famoso por sua militância política em defesa dos movimentos libertários. A obra, é a única em prosa de Neruda.
Quanto a foto, ela foi tirada em Fortaleza, mas a coloquei aí, por que além de ilustrar os versos de Pablo Neruda, ela mostra o céu, a terra e o mar no mesmo tom cinza, cabendo ao poeta que existe dentro de nós desvendar a dimensão que existe entre um e outro.