Acordar de manhã bem cedinho no inverno e correr para cozinha onde o fogão velho já esta aceso e a lenha queima vorazmente para aquecer mais uma manhã de campos brancos lá fora. O café é preparado no bule velho, enquanto o mate é servido na cuia larga, depois da água borbulhar numa chaleira de ferro.
Os galos, não fazem muito tempo, cantavam lá fora, como que num ensaio de coral, se ouve barítonos, sopranos, os do quintal, os do vizinho, os do outro lado do morro. Cada qual com seu canto, cada um com seu tom despertam os colonos que ligeiramente se desvencilham das cobertas pesadas de lã de ovelha. Tiram com muito pesar a cabeça do travesseiro alto de penas de galinha ou de pato e se preparam para mais um dia de inverno.
O café é posto a mesa: queijo, marmelada, pão de forno, mel puro, bolachas de maisena, salame de porco, leite e o café do bule então se derrama na xícara de porcelana. No ambiente o som da Rádio local, dos velhos apresentadores com o mesmo cumprimento de todas as manhãs, da música sertaneja que acompanha o ritmo lento do sol ao nascer por detrás dos montes.
É hora de ordenhar as vacas, tratar os porcos, chamar as galinhas e se preparar para mais um dia de labuta na roça. Às vezes se vai de trator, outras vezes de carroça puxada a boi, em outras apenas eles e sua enxada. Mas enfim um dia de trabalho no campo lhe espera. Capinar, colher milho, apanhar frutas, limpar a horta, colher verduras, alimentar os animais. Plantar, cuidar, colher.
Parece simples, quando acordamos de manhã e avistamos um bloco de construção do lado da nossa janela. Que pena que nem todos puderam um dia acordar numa manhã fria, abrir a janela do quarto e ver o sol que cobre a geada que já se desmancha. Que pode ver o gato sapeca, o cachorro esperto, as galinhas descendo das árvores e não ouviram os galos numa disputa de sinfonia. Que pena que nem todos tiveram a infância que eu tive no interior.
Que não viram a expressão de traços cansados e gastados pelas agruras do sol, que não viram cada estação do ano despontado ao seu ritmo natural. Que não viram as flores desabrochando, que não sentiram o perfume das flores do pessegueiro. Que não se lavaram da água que jorra da torneira faceira no tanque velho da minha avó. Que não tomaram um café doce de bule. Que não colheram a mandioca e depois a comeram com o prazer de ter a certeza de sua qualidade. Que não passaram um dia inteiro de chuva ao redor do fogão à lenha comendo pipoca, pinhão e um mate.
Enfim que pena, sinto de quem não conhece o interior, de quem não conhece o ritmo natural da vida, o sabor natural das frutas, o cheiro natural do ar, o brilho natural do sol sobre a geada. Mas sempre há tempo, por isso não deixem de conhecer um pouco do interior desse mundo e sentir o gosto verdadeiro da terra.
Uma postagem pela qual trago um pouco do interior de Charrua, No Rio Grande do Sul (Brasil, para situar os amigos blogueiros de outros países) descrito nas imagens e também nas palavras, minha avó ia chorar.