Para pai e mãe:
Quando estamos magros - estamos magros demais
quando estamos gordos - estamos gordos demais
mesmo depois dos 24 é um absurdo estarmos fora de casa depois das 22hs
mesmo depois dos 30 ainda é preocupante se bebemos um pouco a mais
mesmo depois dos 40 ainda é triste quando acabamos um relacionamento
mesmo depois dos 50 devemos continuar tomando remédio para vermes
quando voltamos a0s 15 somos os que merecem colo
quando ainda não temos emprego, somos os mais cobrados, os mais recompensados
Com pai e mãe:
O tempo é mais rápido quando próximos
mais devagar quando distantes
mais bonito quando temos colo
mais triste quando restam saudades
as histórias tem mais sentido
e a vontade de crescer é infinita
Pelo pai e a mãe:
Eu ladrilharia ruas
criaria as mais intensas poesias
derramaria as mais verdadeiras lágrimas
daria as mais cobiçadas gargalhadas
mentiria para evitar-lhes sofrimentos
e sofreria por eles, se pudesse em todos os momentos
Um final de semana com pai e mãe:
Vontade abrupta de lançar-me em lágrimas
de roçar-lhe a barba
de pegar na mão
de contar segredos
de esvaziar pensamentos, incertezas e confusões
Vontade de dançar até a última música
de tocar todos os violões
Vontade de caminhar de mão dada pela rua mais frenética da minha realidade
e de braços abertos voltar as ruas que nasci..
Uma vida com pai e mãe
Criaria um caminho de neve branca e leve que os levasse ao outro lado das dunas
lhes mostraria o mar
traria a brisa a seus dias
e lhes daria metáforas ao final da tarde
Chegaria ao topo do mundo para gritar-lhes
Todos os pensamentos bons, as consquistas bonitas
os resguardaria das mãos secas, dos dias longos e frios
os guardaria da realidade tão nua, tão pesada
Mas eu sou uma filha, apenas mais uma, e por isso tão importante. E sendo filha lhes trago problemas, confusões, mais peso, alegrias, poesias, fantasias. Lhes trago o peso de cada fase da vida e a leveza de mais um dia nas suas vidas. Como filha, eu os amo, eu sinto falta deles, e eu tenho necessidade de lutar para lhes dar uma vida melhor.
Bom, este texto é um pequeno desabafo de uma filha que passou o final de semana com os pais, que estão longe sempre a guiar, sempre a lutar. E amigos, se vocês soubessem da história, da humanidade e da força desses meus pais, vocês também chorariam ao vê-los partir...
Não tem preço, não tem documento, não tem sentimento que seja capaz de explicar a vontade que tenho de dar-lhes o mundo, de dar-lhes o tudo...tão breve, tão pequeno...Apenas mais um abraço de pai e mãe...
Guria, não te detenhas, segues em frente e não olhe para traz...Mas como é difícil engolir a lágrima que toca mais uma vez o olhar...